Coronavírus: o tratamento deve ser individualizado e o retorno às atividades precisa ser consciente

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Segundo especialistas os cuidados com higiene são básicos, porém afirmam que muito é informado e pouco se entende

Infectologistas Ricardo Zimerman e Cristiane Hernandes palestraram no Tá na Mesa desta quarta-feira, 20/5 – FOTO: REPRODUÇÃO/FACEBOOK

Desde dezembro de 2019, quando os primeiros casos de coronavírus surgiram na China, o mundo ligou o alerta para uma doença desconhecida e silenciosa. Sem tratamento ou profilaxia, o vírus Sars-Cov-2, se espalhou e rompeu as fronteiras mundiais. O cenário global foi se alterando dia após dia, e o medo de uma pandemia começou a se instalar.  Com um tema delicado e cheio de vieses, a presidente da Federasul, Simone Leite, mediou mais uma edição do Tá na Mesa, que segue sendo transmitido pelas redes sociais da Entidade. Cristiane Hernandes, médica infectologista da Unimed Federação/RS e o ex-presidente da Associação Gaúcha de Profissionais em Controle de Infecção Hospitalar (AGIH) e médico infectologista, Ricardo Zimerman.

Para a médica Cristiane Hernandes, “há muito que se aprender com esta doença. Estamos “trocando o pneu” com o carro andando”, ilustrou. A infectologista fez questão de ressaltar que o Rio Grande do Sul possui singularidades, assim como qualquer outra localidade mundo afora. ”O Estado avança gradativamente o número de infectados. Existe o que chamamos de diferenças epidemiológicas”, disse.

A principal “chaga”, de acordo com a médica, é a falta de orientação e a consequência é o pânico na sociedade. Assim como a Federasul já vem defendendo (distanciamento controlado), Cristiane corroborou com o posicionamento e acredita que o olhar deve ser diferente para cada local, não um olhar único sobre determinada região.

Ricardo Zimerman, que presidiu a AGIH, parte do raciocínio que por ser um vírus desconhecido, e que a origem do mesmo possa ter surgido de diversos vetores, como animais silvestres ou uma mutação coletiva de outros vírus da família corona, atualmente estão catalogados seis tipos, dos mais de 500 que podem existir. “O que houve foi a superestimação da letalidade e mortalidade da infecção. Estudos comprovam que asiáticos são mais propensos à COVID-19, por uma questão genética”, afirmou.

De acordo com dados informados pelo infectologista, a letalidade na Ásia pode chegar 0,9% da população, na Europa e países nórdicos (0,2%) e a tendência é que países das Américas (0,03% a 0,2%). O modo de se espalhar é conhecido como clusters, ou seja, pode existir em uma região e jamais chegar numa cidade ao lado. Para Zimerman “políticas muito disruptivas acabam por interferir na vida como um todo. O perigo está no extremismo”, disse.

Atividades Essenciais

Ricardo Zimerman criticou e chamou de falácia e preconceituosa a determinação do que é ou não essencial. Segundo ele “o critério deve estar baseado na sorologia e não na “essencialidade”, além de observar a capacidade das UTIs”. Esse é critério adotado por Harvard, que aconselha restrição total quando se registra a partir de 37,5 casos por 10 mil habitantes. No RS, o lockdown  aconteceu quando foi registrado 5 casos por 10 mil habitantes.

Uso de máscaras

O retorno às atividades deve ser consciente, afirmou Cristiane. Na visão de ambos, a permanência em casa deve ser apenas de integrantes do grupo de risco. O uso de máscara protege quem está usando, mas não o que não está. Segundo Zimerman as gotículas conseguem sair, mas não conseguem entrar, e são elas o meio transmissor.

Higiene

“Não é lavando o tomate do mercado ou evitar contato com o esgoto que a pessoa estará livre de ser infectada. Se as pessoas começaram a higienizar alimentos apenas agora, o erro está nisso, e também não evite o contágio”, afirmou Ricardo.

Volta às aulas

Cristiane Hernandes defende o retorno consciente, e a criação de protocolos que proíbam o uso de bebedouros, recreio por rodízios, barreiras de proteção entre as classes, mensuração de temperatura e a disponibilização de dispenseres de álcool gel. Alunos, a partir de 16 anos, devem usar máscaras. O risco epidemiológico infantil é baixo, de acordo com Zimerman.

Temperatura e multiplicação

De acordo com ensaios publicados, quanto maior a temperatura e a umidade, pior para o vírus, porém “as conexões com locais mais propensos à doença, facilitam a proliferação”, disse Ricardo, que usou a situação do Ceará, segundo epicentro nacional e que possui três voos semanais para a região da Lombardia, local de maior infestação do coronavírus na Itália.

Protocolos e Tratamentos

Falta de evidencias cientificas sobre qual determinada droga utilizar dificulta o tratamento. Porém, Cristiane afirmou que “o olhar deve ser ao paciente, com um tratamento individualizado”, disse. Para Zimerman ”a ausência de evidências não é evidência de ausência”.

Para Cristiane, que possui experiência com pacientes infectados pelo HIV, a população deve, sim, se preocupar com as suas doenças e não abandonar tratamentos. “As pessoas com câncer, diabetes e cardiopatias precisam ser acompanhadas. O extremismo é ruim em todos os sentidos”.

Reflexos políticos

Zimerman condenou as ações tomadas pelo governador de SP, que na visão dele “tolheu as liberdades individualidades e ameaçou confiscar EPIs junto à iniciativa privada. Erros e extremos acontecem em âmbito federal, porém concordo com as linhas adotadas pelo Planalto”. E ressaltou: “a letalidade é a mesma que uma gripe, mas a mortalidade é maior. Então, não é uma “gripezinha”, disse Ricardo.

Futuro 

Atualmente mais de 100 grupos pesquisam vacinas e remédios contra o coronavírus. Zimerman e Cristiane concordaram que o prognóstico é bom e os números de mortalidade não se confirmarão. Simone Leite, ao fim do evento, pediu equilíbrio e bom senso aos gestores públicos.