“A saída não só para a siderurgia é a exportação. Trata-se da maneira mais fácil e rápida de impulsionar a indústria”, afirmou nesta segunda-feira (13) o presidente da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Benjamin Steinbruch, durante o Congresso Aço Brasil. Segundo o executivo, hoje há um grande potencial de vendas para o exterior. “Mas tudo depende, é claro, de nichos e é preciso buscar estas oportunidades”, disse.
Na opinião do presidente executivo do Instituto Aço Brasil (IABr), Marco Polo de Mello Lopes, uma forma de alavancar imediatamente as exportações seria aumentar a alíquota do Reintegra. Para o dirigente, o governo enxerga o Reintegra como um mecanismo de compensação do câmbio, apenas, quando na verdade deveria compensar a carga tributária. “A alíquota deveria ser muito maior do que 3%. Na China, por exemplo, o Reintegra é de 17%”, comentou Lopes.
Apesar de citar o exemplo da China, o consenso entre os empresários do setor é de que o país asiático é hoje o principal problema de competitividade da siderurgia global. “A competição é desleal”, acrescentou Lopes.
Por esse motivo, o IABr defende algum tipo de salvaguarda para frear o nível de importação de aço chinês no Brasil. “Precisamos de uma defesa comercial adequada que proteja a indústria nacional da importação predatória”, destacou o presidente do IABr. Dados da Deloitte apontam que a entrada de aços da China na América Latina cresceu mais de 60% em 2014. “As exportações do país asiático quase triplicaram nos últimos cinco anos”, revelou o líder do setor global de metais da Deloitte, Stephen Duck.
Com isso, o aço chinês inundou o mercado internacional e vem pressionando siderúrgicas do mundo todo. “Hoje, 20% do total exportado no mundo vêm da China”, destacou o diretor geral da Associação Mundial do Aço (Worldsteel Association, na sigla em inglês), Edwin Basson. De acordo com ele, 13% da capacidade instalada chinesa foram exportadas em 2014. Mas apesar do tom quase catastrófico em relação à China, a indústria brasileira ainda precisa enfrentar outros fantasmas dentro de casa. Com a demanda enfraquecida há algum tempo, as vendas internas devem recuar bastante no ano e a produção também.
Segundo projeções revisadas do IABr, a produção de aço bruto deve cair 3,4% em 2015, para 32,7 milhões de toneladas. “Estamos fazendo um esforço monumental para manter o nível de capacidade no parque industrial brasileiro”, argumentou Lopes.
Nos últimos 12 meses, o setor demitiu 11,1 mil pessoas e pode dispensar mais 4 mil funcionários até o final do ano, o que representa, ao todo, de 12% a 13% do efetivo do setor, segundo o IABr. “As empresas já vêm adotando medidas de ajustes para preservar o emprego”, observou o presidente do conselho diretor do IABr e também da ArcelorMittal Brasil, Benjamin Baptista.
Conforme o executivo, estas medidas incluem suspensão temporária do contrato de trabalho (layoff) e semana curta, por exemplo. Baptista destacou ainda que a medida provisória do Programa de Proteção ao Emprego (PPE) é bem-vinda, mas precisa ser regulamentada. “A MP veio no caminho certo. Tudo que puder reduzir custos das empresas, preservando o emprego, é válido”, disse ele.
Crise estrutural
Ações pontuais de algumas empresas também visam conter os estragos causados por uma crise quase que estrutural, como é o caso do desligamento temporário de dois altos-fornos da Usiminas e a tentativa da CSN de vender ativos non core.
De acordo com o IABr, cerca de US$ 2,1 bilhões foram adiados em investimentos no parque industrial brasileiro, o que impediu a geração de mais de 7 mil postos de trabalho. “A siderurgia nacional está vivendo a pior crise de sua história, de forma mais grave do que a vivida em 2008”, lembrou Lopes. Isso porque, segundo o dirigente, naquela época a indústria local estava capitalizada, vinda de um período de crescimento. “Hoje a situação é bem diferente”, observou. Segundo Lopes, o cenário é mais crítico em aços planos. “A demanda por esse insumo é paralisada muito rapidamente em momentos de crise. Prova disso são os cortes de produção nos setores automotivo e de eletrodomésticos.”
No entanto, ele salienta que a demanda também volta na mesma velocidade no momento em o consumo nestes segmentos retorna. “A grande pergunta que fica é quando a economia brasileira vai voltar a crescer?”, indagou Lopes.
Fonte: Diário do Comércio e Indústria