RS vive crise demográfica e de produtividade, explica economista, no Tá na Mesa

Aod Cunha falou sobre os problemas do desenvolvimento do estado, antes e depois da catástrofe climática

Rodrigo Sousa Costa e Aod Cunha. Foto: Sérgio González

Na reunião-almoço ‘Tá na Mesa’, promovida pela FEDERASUL nesta quarta-feira (21), o economista Aod Cunha alertou para diminuição da população, queda da produtividade e evasão de talentos que produzem crise no desenvolvimento do RS. Além disso, ele também defendeu unidade e foco para uma agenda comum visando mudar o futuro do estado.

O presidente da FEDERASUL, Rodrigo Sousa Costa, abriu o evento contando os casos de pequenos empresários que foram duramente afetados pelas enchentes e que estão tendo dificuldades no acesso aos recursos do governo federal. “São os responsáveis pela criação de postos de trabalho, pela segurança alimentar do RS e do Brasil e neles depositamos a esperança, pelo resgate, pela reconstrução de nosso estado. Se eles nos dizem que não estão sendo socorridos, nós temos que nos preocupar e ficar angustiados”, afirmou o presidente. 

foto: Sérgio González

 

Após, ele apresentou o caso do produtor rural Lourenço Caneppele, da área da agropecuária, que teve toda a estrutura de sua propriedade arrasada pelas enchentes. O pequeno empreendimento em Roca Sales foi a fonte de renda de sua família por seis gerações, desde a década de 1890.

 

 

Resposta a Lula

O presidente Rodrigo Sousa Costa, também respondeu ao comentário do presidente, Luiz Inácio Lula da Silva do dia 16 de agosto, quando foi entrevistado no programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha. “Por mais que as nossas críticas da FEDERASUL estejam incomodando o presidente Luiz Inácio, que trouxe à tona dores e mágoas de 20 anos atrás em relação a esta casa, a verdade é que as nossas críticas são respeitosas e não são vazias. Elas são fundamentadas em realidades que emergiram aqui no palco (durante o último Tá na Mesa, no dia 14 agosto) por cinco representantes de milhares de outros empreendedores, de todos os setores da economia gaúcha”, afirmou Costa.

 

foto: Sérgio González

Crise migratória

Aod Cunha iniciou a apresentação focando em explicar os motivos que fazem o RS crescer menos que nos anos 1980, sempre comparando com o estado vizinho, Santa Catarina, que demonstra os melhores números do país.. Para ele, esse fenômeno se explica pela relação da baixa produtividade da mão de obra e decréscimo populacional. Cunha apresentou dados que demonstram que, “nas próximas décadas, a produtividade terá que triplicar para que cresçamos como crescemos nos últimos 20 anos”. Nos últimos anos, a população do RS decresceu 1,8%, enquanto Santa Catarina aumentou em 21,8%, por exemplo.. 

No RS, praticamente todas as regiões do estado apresentaram decréscimo, enquanto somente a Serra e o Litoral Norte demonstraram crescimento. Enquanto isso, os vizinhos catarinenses apresentam aumento de população por todo o estado, com destaque para a região litorânea. “São cidades nas quais a população aumentou até 60%”, explica o economista.

A saída de gaúchos também é preocupante, segundo Aod Cunha, atingindo o número de 700 mil conterrâneos que escolheram deixar o estado, no período de 2010-2022. “O nosso maior problema é a baixíssima taxa de imigração do estado, pouquíssimas pessoas vêm para cá. É um problema porque precisamos atrair pessoas”, defendeu.

Para Cunha, a baixa taxa de imigração no Rio Grande do Sul se tornou uma das maiores preocupações demográficas para o estado. Ele alertou para a evasão de talentos, afirmando que as pessoas tendem a buscar locais onde se sintam seguras, com serviços eficientes e opções de lazer e cultura. “Precisamos ser um centro de concentração de gente boa, que produz ciência e tecnologia”, afirmou.

foto: Sérgio González

Gargalos

Cunha também elencou alguns importantes gargalos da sociedade gaúcha, pelos quais passa, segundo o economista, a diminuição do desenvolvimento do estado, como a dívida pública, secas e uma política de desenvolvimento mais moderna. No entanto, ele destacou que o principal gargalo é o ensino, mas sobre uma visão de futuro. “Educação não gera resultado imediato, não gera aumento de produtividade a curto prazo”, explicou.

Dados demonstrados pelo economista mostram que os indicadores de educação gaúcha vêm diminuindo desde o fim do século passado. Dados do mais recente levantamento do Ideb demonstram que o estado perdeu mais posições no ranking de avaliação da educação, com a nona colocação entre as turmas do 1º ao 5º ano, com a 11ª posição do 6º ao 9º ano e com o 10º lugar no Ensino Médio.

“O Rio Grande do Sul sempre era visto no passado, até os anos 60, como um estado referência, e isso passa pela educação que era referência”, defendeu.

Reconstrução

Para Cunha, a reconstrução do estado é um processo de longo prazo, que vai além de alguns meses, podendo levar anos. Ele destacou que a suspensão do pagamento da dívida estadual, apesar de fornecer uma folga de R$ 12 bilhões, ainda não é o bastante para reconstruir a infraestrutura e outros setores essenciais. “São várias frentes que precisam ser atendidas”.

 

Agenda comum

Tendo em vista esses gargalos, é necessário uma unidade de agenda, defende o economista, para focar nessas pautas estratégias para o desenvolvimento do estado, “uma agenda comum”. “Os nossos desafios estão nessas partes estruturais. No momento em que tivemos uma destruição de riqueza tão grande, o estado deve se utilizar de uma mobilização para resolver problemas que já tínhamos. Não é apenas reconstruir. É construir melhor.” 

Para ele, este momento é importante para realizar essas mudanças. “É hora de fazer um futuro melhor para os nossos filhos e nossos netos. É uma escolha, é um legado. Nós precisamos ter um mínimo de capacidade de construir essa agenda, tem que ter foco, finalizou.

 

Vitrine

No espaço Vitrine, dedicado para a divulgação de eventos e ações de destaque das filiadas da FEDERASUL, a CIC de Caxias ocupou o palco, por meio de seu diretor de marketing, Felipe Andreola, que apresentou o evento CIC Connection, a se realizar nos dias 4 e 5 de setembro.

PUBLICADO EM: 21 de agosto de 2024