RS tem vocação na produção de alimentos

Entidades que representam os setores de aves, bovinos e suínos participaram da Live Tá na Mesa desta quarta-feira (23)

FOTO: REPRODUÇÃO/FACEBOOK

Com tradição na produção de carnes e derivados, o Rio Grande do Sul construiu sua história há séculos. Desde os tempos das charqueadas, no período do Império, o Estado vem desenvolvendo e aperfeiçoando esse importante papel de produzir alimentos para consumo interno e externo. Com o passar dos tempos e a chegada da industrialização, passamos a exportar, por via terrestre, marítima e ferroviária, a carne produzida na região do Pampa Gaúcho.

Apesar de uma história carregada de desafios, acabamos perdendo competitividade frente a outros Estados, como Mato Grosso do Sul, no caso da carne bovina e para Santa Catarina e Paraná, no que tange a produção de aves e suínos. As justificativas já são conhecidas do público: carga tributária elevada e falta de investimentos em infraestrutura logística.

O Rio Grande do Sul possui um dos portos mais importantes da América, localizado em Rio Grande, no Litoral Sul. Além dele, o Porto de Estrela, localizado no Vale do Taquari, conhecido por “Vale dos Alimentos”. A Região é, perante a avicultura, a segunda principal produtora, atrás apenas da Serra. Na terceira posição, a Região Norte.

A produção de aves, de acordo com presidente da ASGAV (Associação Gaúcha de Avicultura), José Eduardo dos Santos, corresponde a quase 4% do PIB estadual e 45% do valor bruto da pecuária, e que corresponde a R$ 16 bilhões. Outro dado importante é a exportação de frango, que alcançou, em 2019, US$ 1.4 bilhão e mais de 550 mil toneladas de proteína animal, destinada a países como China, Japão, além de Oriente Médio e outros 160 países. A planta industrial do setor concentra 30 frigoríficos e 23 fábricas de ração. O setor é responsável pelo emprego direto e indireto de 500 mil pessoas e está presente em 246 cidades do RS. A produção de ovos, no ano passado, ultrapassou a casa dos 3.5 bilhões de unidades, e é considerada a maior exportadora do produto no Brasil. A avicultura gaúcha detém o terceiro lugar no ranking nacional.

“O Estado precisa ajustar sua matriz tributária, modernizar e avançar em privatizações e em reformas estruturais e administrativas da máquina pública. É preciso buscar todas as alternativas em prol do crescimento e desenvolvimento deste importante estado”, afirmou José Eduardo dos Santos.

Com 227 estruturas frigoríficas, sendo 16 delas sob inspeção federal e responsável por 89% dos abates em solo gaúcho, correspondendo a uma produção de 7.5 milhões de suínos, apenas no ano de 2019, segundo José Roberto Goulart ,presidente do Sindicato das Indústrias de Produtores de Suínos – SIPS. A organização do setor é subdivida em 40% para consumo interno, 45% outras Unidades da Federação e 15% exportada, totalizando, em comercialização com outros países uma movimentação que superou os US$400mi. A comunidade internacional comprou do Rio Grande do Sul quase 180 mil toneladas de proteína suína, sendo o maior mercado a China. Para José Roberto Goulart, “o Rio Grande do Sul precisa melhorar seu status sanitário e incentivar a produção de milho para ração animal”. Segundo ele, essa seria a alternativa que promoveria o retorno do RS perante o mercado nacional.

Representando 75% do mercado de carne bovina do Rio Grande do Sul, o Sindicato das Indústrias de Carne do RS, também apresentou os números e as perspectivas do setor. Segundo Ronei Alberto Lauxen – presidente do SICADERGS, o RS perdeu sua representatividade e importância perante o mercado nacional por questões tributárias e falta de investimento logístico, acesso asfáltico e depreciação da estrutura da Zona Rural. Em 2019, a negociação de carne bovina movimentou R$ 9 bilhões, sendo 15% deste valor referente à exportação. Sobre a questão tributária, Lauxen afirmou que “foi acertada a decisão de recuar com o projeto da Reforma Tributária, apresentada pelo governador. O que nosso setor defende é uma ação que contribua com o desenvolvimento econômico”.

Provocados sobre o cenário de exportações e os impactos da COVID-19 nos setores, a presidente da FEDERASUL, Simone Leite perguntou aos convidados quais seriam os desafios que cada segmento vê como transponível de ser enfrentado. Para a ASGAV o foco deve ser o controle e o aperfeiçoamento da sanidade animal, qualidade dos insumos e biossegurança, além de planos que visem o estímulo da competitividade. Questões de infraestrutura também foram elencadas, como melhor utilização de portos, hidrovias e ferrovias. Investimentos no Porto de Estrela, por exemplo, significariam um ganho de competitividade na cadeia de aves, salientou o presidente da ASGAV.

Na visão dos produtores de carne suína, os desafios serão vencidos com o aumento da produção que, consequentemente, impactará na receita. Para José Roberto Goulart, presidente do SIPS, “caso ocorra estimulo na produção de milho e soja, além de melhor uso do Porto de Rio Grande e Estrela, traz muitas vantagens, entre elas a aproximação com países do Cone Sul, vantagem geográfica do RS perante os mercados do centro do País”.

O SICADERGS defendeu, assim como os outros representantes, as melhorias em infraestrutura de estradas e cobrou ações que visem desburocratizar e atrair mais plantas frigoríficas ao RS, que hoje é o sétimo rebanho do Brasil. “O Rio Grande do Sul tem vocação para produção de alimentos. Está no DNA e isso precisa ser preservado”, afirmou Ronei Alberto Lauxen.

 

PUBLICADO EM: 23 de setembro de 2020