O Mubadala, que com a trading holandesa Trafigura detém 65% do terminal, prefere não falar em novo prazo. No projeto de Eike Batista, as obras do Porto Sudeste seriam iniciadas em 2009 para começar a operar em 2011. Após sucessivos atrasos, o diretor de operações do porto, Eugenio Mamede, chegou a dizer em agosto que o terminal estava “no caminho para entrar em operação no início do último trimestre de 2014”. O que também não ocorreu.
De acordo com a Impala, subsidiária da Trafigura, a última etapa é a autorização da Marinha brasileira para a liberação do canal marítimo de acesso. “Com essa aprovação, o Porto Sudeste estará pronto para o primeiro carregamento”, afirma em nota. Com investimentos de R$ 4,2 bilhões, o empreendimento tem capacidade para escoar no primeiro ano 7 milhões de toneladas de minério de ferro até atingir a capacidade máxima de 50 milhões de toneladas.
O Sudeste é uma janela para a exportação de mineradoras da região de Serra Azul, em Minas Gerais. Por isso, o consórcio vem negociando contratos de compra de minério com pequenos e médios produtores. Hoje, o porto tem contratos com a Usiminas e com a MMX, que ainda detém 35% do terminal portuário e está, como outras empresas fundadas por Eike Batista, em recuperação judicial. No início do ano, segundo apurou o Estado, representantes da companhia estiveram em Abu Dabi para oferecer essa fatia ao Mubadala, sem sucesso.
Para viabilizar a operação do porto, o consórcio também está mapeando ativos no setor de mineração. A ideia é adquirir participação em uma ou mais mineradoras, ou financiar a expansão dessas companhias.
Na negociação para ficar com o porto, Mubadala e Trafigura fizeram um aporte de US$ 400 milhões e assumiram dívidas de R$ 1,3 bilhão da MMX. Segundo uma fonte, o fundo teria usado parte do crédito com o Grupo EBX para pagar a compra da sua fatia no empreendimento.“Não há dúvidas de que eles se complicaram muito com os negócios aqui no Brasil”, diz um ex-executivo da EBX. Em 2011, quando começou a se falar de Mubadala no País, os planos do fundo de Abu Dabi eram ambiciosos.
Na época, o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, chegou a afirmar que o governo estava negociando com os árabes um aporte de US$ 13 bilhões, nos segmentos de mineração, alumínio, energia e logística – o que nunca ocorreu nessa proporção.
Cautela. Mesmo depois dos problemas com Eike, representantes do Mubadala declararam em entrevista por e-mail que enxergam o Brasil “como um mercado com grande potencial de crescimento a longo prazo”. Uma fonte próxima ao fundo reforça, no entanto, que, no escritório do Mubadala no Rio, o clima é de cautela. O pouco que se conhece do fundo árabe é que seus investimentos são ortodoxos e conservadores. Depois de terem apanhado no Brasil, eles redobraram a preocupação.
Para lembrar. O empresário Eike Batista, que já foi listado como o sétimo homem mais rico do mundo, viu o seu império desmoronar em meio à crise que atingiu a sua petroleira OGX (rebatizada de Óleo e Gás Participações, OGPar) e contaminou outras empresas do Grupo EBX.
As ações da companhia derreteram em meio a uma crise de confiança dos investidores, que culminou no pedido de recuperação judicial da empresa. Os problemas se agravaram no ano passado. O fundador do grupo X foi denunciado, em setembro, pelos crimes de manipulação de mercado e uso de informações privilegiadas. Ao fim de 2014, quatro das empresas que fundou tinham entrado com pedido de recuperação judicial: a OGX, empresa de construção naval OSX, a mineradora MMX e a Eneva, antiga MPX, de energia.
Eike pode ser o primeiro empresário preso por crimes contra o mercado de capitais, embora tenha bons antecedentes a seu favor. Em entrevista no ano passado, ele confirmou o status de ex-bilionário. Afirmou ter um patrimônio negativo em US$ 1 bilhão, lamentou a suposta volta à classe média e reafirmou a importância de seus projetos para a infraestrutura do País.
Fonte: Estadão