Pela primeira vez, em 30 anos, o Tá na Mesa abordou o tema da violência contra a mulher e quais são as saídas para reduzir o feminicídio
O presidente da FEDERSAUL, Rodrigo Sousa Costa, anunciou durante o Tá na Mesa desta quarta-feira (17), a criação de um Grupo de Trabalho que terá a missão de criar oportunidades dentro das empresas e preparar medidas de acolhimento às mulheres vítimas de violência doméstica. O Grupo será formado por diretores e gerentes de departamento de Recursos Humanos das empresas e estará vinculado à Divisão ESG (governança ambiental, social e corporativa) da entidade. O anúncio foi feito quando o tema “Violência contra Mulher: Quando o empreendedorismo liberta” estava sendo debatido pela primeira vez no Tá na Mesa que contou com a participação do vice-governador Gabriel de Souza, da juíza titular do 1º Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a mulher de Porto Alegre, Madgéli Frantz Machado e da presidente do Conselho da Mulher Empreendedora da FEDERASUL, Simone Leite.
Em sua manifestação, a juíza Madgéli Frantz Machado destacou que um levantamento realizado esse ano apontou que 33,4% das mulheres brasileiras com mais de 16 anos sofreram violência física e/ou sexual por parte de seus parceiros íntimos ou ex-companheiros. Nesse contexto, 65% das mulheres são negras, 30,3% têm entre 16 e 24 anos, 51,9% residem em cidades do interior e as próprias casas são os espaços de maior violência, com 53,8% dos locais.
A juíza considera que a violência contra a mulher no Brasil seja ao mesmo tempo visível e invisível, já que 45% não procurou a polícia por considerarem que poderiam resolver sozinhas. “A violência doméstica não escolhe idade, classe social, raça/cor ou escolaridade, mas são as mulheres mais vulneráveis como as negras, as de baixa escolaridade, as de baixa renda e as que estão em idade reprodutiva que mais sofrem violência”, enfatiza.
No Rio Grande do Sul, conforme Madgéli Frantz Machado, o mapa do feminicídio apontou que em 2022 houve um aumento de 13,5% em relação ao ano anterior. Ela acrescentou que 79,8% dessas mulheres estavam sem medida protetiva vigente na data do crime e 50,5% dos casos não tinham registro de ocorrência anterior ao fato.
Ao avaliar os impactos da violência contra a mulher na economia, a juíza disse que uma pesquisa realizada pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais em 2021 revelou que se a violência contra a mulher acabasse, o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro, em 10 anos, teria um aumento de mais de R$ 214 bilhões. Disse também que a violência contra a mulher provoca o fechamento de 1,96 milhão de postos de trabalho no Brasil, o que responde por uma massa salarial de R$ 91,44 bilhões e de arrecadação de R$ 16,44 bilhões em tributos em 10 anos.
A juíza acredita que investir no empreendedorismo feminino é uma excelente estratégia de prevenção e combate à violência doméstica já que a relação de dependência financeira faz com que muitas mulheres se neguem a denunciar seus agressores. “No Brasil, o empreendedorismo pode representar a porta de saída da violência doméstica enfrentada por muitas mulheres. Uma pesquisa aponta que 48% das entrevistadas conseguiram terminar relacionamentos abusivos e até violentos ao abrirem a própria empresa”, finalizou.
Para a presidente do Conselho da Mulher Empreendedora da FEDERASUL, Simone Leite, existem dois pontos importantes no combate a violência contra a mulher: a denúncia e o acolhimento. Ela relatou que a FEDERASUL conta hoje com 50 núcleos de mulheres nas Associações Comerciais e Industriais do interior do Estado, que estão formando redes de atuação para atender, acolher, ajudar e qualificar mulheres que sofrem violência a fim de contribuir para mudar essa realidade. “Trabalhamos pela inserção dessas mulheres, para que se tornem protagonistas das suas vidas, ocupem espaços de liderança e tenham voz ativa”, argumentou ao acrescentar que a independência financeira e o apoio da sociedade são fundamentais.
Simone Leite acredita que através do trabalho as mulheres podem resolver seus problemas domésticos e que o ambiente econômico empresarial ajuda no empoderamento das mulheres.
O vice-governador, Gabriel de Souza, apresentou as ações desenvolvidas em defesa das mulheres, destacando que cabe ao Estado monitorar a escalada da violência contra a mulher para que não haja avanço e ocorrência de feminicídios. Disse também que com o reforço das ações policiais no combate à criminalidade, o mês de abril passado registrou quedas históricas dos indicadores de feminicídios no Estado. Foram cinco casos, contra dez em igual período de 2022, totalizando uma queda de 50%. No acumulado de janeiro a abril, a redução foi de 23,7%. No primeiro quadrimestre, foram 29 ocorrências contra 38 no mesmo período do ano passado.
Anunciou que a Secretaria da Segurança Pública vai investir R$ 4,2 milhões para disponibilizar duas mil tornozeleiras eletrônicas para o uso em agressores que cumprem medidas protetivas da Lei Maria da Penha e que será utilizado um aplicativo de celular, interligado à tornozeleira para monitorar o agressor em tempo real e alertar a vítima e as forças de segurança se a zona de distanciamento for ultrapassada.