Depois que o IPCA de janeiro surpreendeu com uma taxa mais elevada do que a prevista, o mercado financeiro apresentou uma nova rodada de deterioração de suas estimativas para a inflação deste e do próximo ano. A tal ponto que a projeção para o índice de 2016 se afastou mais do teto da meta de 6,50% e a para 2017 atingiu o limite máximo de 6,00% que o Banco Central pode entregar. Ao mesmo tempo, piorou o cenário para a atividade doméstica, que deve ter uma recessão ainda maior este ano e uma retomada mais lenta no próximo.
De acordo com o Relatório de Mercado Focus produzido com as expectativas de cerca de 120 instituições financeiras, o IPCA fechará o ano que vem em 6,00% ante previsão anterior de 5,80%. A alta de 0,20 ponto porcentual (pp) em apenas uma semana se deu depois que o IBGE trouxe índice de 1,27% em janeiro – a projeção mais alta para a inflação do primeiro de mês de 2016 era de 1,21%.
O pior, segundo analistas consultados, é que nem todo o pessimismo pode ter se traduzido no documento divulgado nesta quarta-feira, 10, pelo BC por causa do feriado de carnaval. Há quem espere novas edições com cálculos ainda mais distorcidos do alvo buscado pelo BC. É o que já se vê entre as cinco instituições que costumam acertar mais as estimativas no médio prazo, denominadas Top 5. Para elas, o IPCA subirá 6,40% no ano que vem.
Para este ano, o avanço das previsões para a inflação foi ainda maior, de 0,30 pp, chegando a 7,56%. Entre os Top 5, a marca subiu de 7,79% para 8,13% em apenas uma semana. Com isso, todas as previsões estão mais distantes do patamar de 6,50% que a autoridade não poderia deixar ultrapassar. Vale lembrar que no ano passado o presidente do BC, Alexandre Tombini, não conseguiu entregar essa marca e, por isso, teve de escrever uma carta ao ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, para justificar o fracasso de sua missão.
A alta das expectativas para 2016 não ficou restrita ao IPCA, que é o índice oficial de inflação. No caso do IGP-DI, por exemplo, houve uma disparada de 7,00% para 7,72%. O IGP-M, principal referência para reajustes de aluguel, subiu de 7,18% para 7,29% no boletim. O IPC-Fipe, que é um indicador específico sobre o comportamento dos preços em São Paulo, avançou de 6,27% para 7,00% na Focus.
E esse movimento generalizado ocorreu sem que houvesse qualquer mudança das estimativas para o câmbio – que deve fechar 2016 em R$ 4,35 e 2017 em R$ 4,40 – nem para os preços administrados ou monitorados pelo governo, como conta de luz e água, por exemplo. Vilões do ano passado, com um salto de 18,07%, esse conjunto de itens deve avançar 7,70% em 2016, conforme a pesquisa, e 5,50% em 2017.
Fonte: Estadão