Medidas do Governo Federal são insuficientes e o RS precisa de ações resolutivas

É o que disseram os economistas de quatro Federações no Tá na Mesa dando eco ao desabafo do presidente que elevou o tom das críticas ao governo federal marcando o reinício das atividades presenciais no Palácio do Comércio

Cenário assustador e preocupante pelos efeitos econômicos drásticos a partir da ausência de auxílio do Governo Federal equivalente ao tamanho da catástrofe que assolou o RS. Esse foi o contexto caótico apresentado pelos economistas da Farsul, Antônio da Luz; da Fecomércio-RS, Lucas Schifino; da CDL POA, Oscar Frank e da Fiergs, Giovani Baggio, no Tá na Mesa desta quarta-feira (12). O presidente da FEDERASUL, Rodrigo Sousa Costa, subiu o tom das críticas ao governo federal e foi aplaudido de pé. “São medidas marcadas por morosidade, inércia e pouco efetivas. Precisamos de ações resolutivas”, afirmou o líder da entidade.

Haiti ou Europa

O presidente foi taxativo quanto aos efeitos econômicos drásticos que a catástrofe climática vai trazer para o RS, junto com a ineficiência das medidas do governo federal. “A gente está vendo uma onda de demissões seguidas por um êxodo. Podemos virar um Haiti, que a destruição fez seus cidadãos saírem do país, ou uma Europa do pós-guerra, que se reconstruiu. Depende do que fizermos, de como agimos”, afirma Sousa Costa.

Para o presidente da FEDERASUL falta diálogo e uma “mão estendida do governo federal”, e julgou “insensíveis” e “insuficientes” as medidas anunciadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na última quinta-feira (06). “Todas as entidades alertaram sobre o problema do quinto dia útil. Esse país já deu dinheiro a fundo perdido para tantos países, já perdoou dividas, já auxiliou países com crise humanitária. Por que, para o Rio Grande, é crédito com juros variados? É um presidente sindicalista que se comporta como banqueiro”, criticou o presidente Rodrigo Sousa Costa, que foi aplaudido de pé por todos os presentes.

Foco

O economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz, começou a sequência de palestras solicitando à produção do evento que inserisse no telão as medidas do governo federal para o RS. Sob olhares de confusão entre os membros da equipe da FEDERASUL, que não haviam recebido apresentação do economista, da Luz afirmou: “Isto mesmo, não tem”.

A crítica ao governo federal feita em forma de piada foi o início de uma apresentação dura. Segundo da Luz, o valor de R$ 1 bi aportado pela União por meio de crédito a produtores rurais do RS “não fazem nem cócegas”. Ele citou também o recente leilão de arroz proposto pelo governo federal e anulado hoje (12) após denúncias de irregularidades. “Com esses R$ 7 bi (do leilão) poderíamos ajudar muito mais empresas. Não me parece que é falta de dinheiro, é falta de foco”, criticou o economista.

Indústria

Já o economista-chefe do sistema Fiergs, Giovani Baggio, apresentou os dados que a entidade colheu por meio de consulta a 220 indústrias gaúchas entre os dias 23 de maio a 10 de junho. O estudo foi separado em dois blocos, um sobre os impactos nas empresas, e outro sobre suas perspectivas para o futuro.

         Do total de indústrias ouvidas pela Fiergs, 36% informou ter sido muito afetada pelas enchentes, sendo que 44% pararam completamente suas atividades durante o período. 19% informaram ter paralisado parcialmente. Em média, as empresas relataram que o período inativo chegou até 14 dias. Até o último dia da consulta, 21% notificaram que ainda não haviam conseguido voltar à atividade.

Para 71% das indústrias ouvidas pela pesquisa, o maior problema enfrentado neste momento é logístico, devido à destruição ou alagamentos de estradas, da paralisação do aeroporto, bem como a queda de pontes. “Isso (a reconstrução da infraestrutura) é fundamental para retomarmos negócios, para que as empresas tenham a chance de colocar seus produtos no mercado com preços competitivos. É urgente medidas do tamanho desses problemas”.

Prejuízo

O economista e gerente de relações governamentais da Fecomércio-RS, Lucas Schifino, também criticou as medidas do governo federal. Os valores aportados pelo Palácio do Planalto são direcionados para empresas diretamente alagadas, mas ignoram as que foram duramente afetadas pela catástrofe de forma indireta. “Imagina quantos mercados não alagaram, mas perderam o estoque por falta de luz? O prejuízo é gigantesco”.  

De acordo com Schifini, as empresas gaúchas foram afetadas de diferentes maneiras; pela destruição de ativos, pela redução da atividade econômica, com receitas obstruídas direta ou indiretamente pelo alagamento, bem como aumento de custos devido a problemas de infraestrutura.

Segundo estudo da Fecomércio-RS divulgado por Schifino, a estimativa é que, somente a destruição de ativos das empresas devem representar perdas de mais de R$ 20 bi, o que os valores aportados pelo governo federal não contemplam. “São medidas muito tímidas. A União não precisa esperar as pessoas serem demitidas”, afirmou

 

Varejo

O último a palestrar foi o economista-chefe da CDL-POA, Oscar Frank, que apresentou dados do setor de varejo em todo o RS. As informações foram colhidas por meio do Índice Cielo. Os dados mostram os efeitos das enchentes na queda da atividade do setor. O destaque negativo é Eldorado do Sul, que apresentou 80% de queda da atividade do varejo no mês de maio.

A estimativa de queda da arrecadação de ICMS, em conjunto com a diminuição da atividade econômica, é de -R$ 14,30 bi, em relação com o mesmo período de 2023. O cenário estimado para os impactos das enchentes sobre o Produto Interno Bruto, informa Frank, é de -R$ 40 bi.

Por fim, o economista da CDL-POA também criticou as medidas anunciadas pelo governo federal, principalmente relacionado à MP 1.230, que deveriam preservar empregos. “O período caracterizado pelo maior desequilíbrio financeiro (a folha salarial de maio, que deveria ser paga no quinto dia útil de junho) fica descoberto, a jornada de trabalho permanece inflexível e ainda há a impossibilidade de celebrar acordos com cada colaborador”, explica.

Dinheiro novo

Dados pormenorizados pelo economista Oscar Frank demonstram que, dos R$ 120 bi anunciados pelo governo como auxílio ao RS, apenas R$ 31 bi são “dinheiro novo”. A maior parte dos valores está ligado à suspensão do pagamento da dívida com a União, o leilão do arroz, o auxílio reconstrução, entre outras ações emergenciais diretamente para pessoas físicas. “Falo com tranquilidade, é muito pouco. Precisamos de mais dinheiro a fundo perdido para reconstrução”, explicou.

Pequenas vitórias

O evento marcou a volta das atividades presenciais na sede da FEDERASUL, no Palácio do Comércio, após 39 dias do início das enchentes no Estado. O vice-presidente de Integração da FEDERASUL, Rafael Goelzer, abriu os trabalhos celebrando a simbologia da volta dos eventos presenciais. “São pequenas vitórias que marcam o recomeço do RS”. Ele também lembrou que o atual prédio do Palácio do Comércio foi, curiosamente, inaugurado em 1940, pouco antes da outa enchente histórica que marcou o RS, em 1941.

 

foto: Sérgio Gonzalez

 

PUBLICADO EM: 12 de junho de 2024