Fed eleva juros pela primeira vez em quase uma década e cita recuperação econômica dos EUA

O Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, elevou os juros pela primeira vez em quase uma década nesta quarta-feira, sinalizando confiança de que a economia norte-americana superou amplamente as feridas da crise financeira de 2007 a 2009.

O Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) elevou a faixa para sua taxa de juros em 0,25 ponto percentual, para entre 0,25 e 0,50 por cento ao ano, encerrando um longo debate sobre se a economia dos EUA está forte o suficiente para aguentar custos de financiamento maiores.

“Com a economia tendo um bom desempenho e com a expectativa de que continuará assim, o comitê avalia que uma alta modesta na taxa de juros é apropriada”, disse a chair do Fed, Janet Yellen, em uma coletiva de imprensa após o anúncio da decisão. “A recuperação econômica claramente avançou bastante.”

O comunicado do Fed destacou a “melhora considerável” do mercado de trabalho dos EUA, onde a taxa de desemprego caiu a 5 por cento e disse que os membros do Fed estão “razoavelmente confiantes” de que a inflação vai subir no médio prazo para a meta de 2 por cento.

O Fed deixou claro que a alta de juros foi um hesitante início de um ciclo de aperto “gradual” e que, ao decidir o próximo passo, colocará em destaque o monitoramento da inflação, que permanece muito abaixo da meta.

“O processo deve avançar gradualmente”, disse Yellen, indicando que novas altas virão lentamente.

Ela acrescentou que os membros do Fed esperam um aumento lento dos juros, mas em um ritmo que mantenha o Fed à frente da curva, conforme continue a recuperação econômica.

“Para manter a economia caminhando no ritmo de crescimento em que está… nós gostaríamos de evitar uma situação onde tenhamos deixado muita acomodação (monetária) por um longo período de forma que teríamos de apertar de forma abrupta.”

As novas projeções econômicas do Fed ficaram, de forma geral, inalteradas em relação a setembro, com a taxa de desemprego devendo cair a 4,7 por cento no próximo ano, quando a economia deve crescer 2,4 por cento.

O comunicado do Fed e sua promessa de ritmo gradual representaram um compromisso entre os membros do Fed que estavam prontos para uma alta de juros há meses e aqueles que acreditam que ainda há riscos para a economia devido à fraca inflação e crescimento global lento.

“O Fed está se esforçando para garantir aos mercados que, ao embarcar em uma trajetória ‘gradual’, este não será um ciclo tradicional de taxa de juros. Em vez disso, este será lembrado como um aperto anormalmente frouxo”, disse o consultor econômico chefe da Allianz, Mohamed El-Erian.

Membros do Fed disseram que estavam confiantes de que a situação está madura o suficiente para que fosse dada uma guinada histórica na política monetária sem muito estresse no mercado financeiro, que já esperava a alta de juros nesta semana.

O mercado acionário dos EUA teve forte avanço após a notícia, em parte porque o Fed deixou claro que avançaria lentamente com o aperto.

POLÍTICA AINDA EXPANSIONISTA

Yellen disse que o Fed não quer frear os gastos dos consumidores ou os investimentos das empresas. Ela enfatizou que os juros permanecem baixos mesmo após a elevação, perto de patamares que economistas se referem como apropriados para uma recessão.

“A política continua expansionista”, disse Yellen. “A economia dos EUA mostrou força considerável. Gastos domésticos se mantiveram.”

A taxa de juros mediana apontada para 2016 pelos membros do Fed permanece em 1,375 por cento, indicando quatro altas de 0,25 ponto percentual no próximo ano. com base nas taxas de juros de curto prazo no mercado futuro, os operadores esperam que em abril os juros subam novamente.

Pesquisa Reuters publicada em 9 de dezembro mostrava que a probabilidade de uma alta dos juros nesta quarta-feira era de 90 por cento, com economistas projetando a taxa de juros entre 1 e 1,25 por cento até o fim de 2016 e de 2,25 por cento até o fim de 2017.

Para levar a taxa de juros do atual patamar de perto de zero para a faixa entre 0,25 por cento e 0,50 por cento, o Fed fixou a taxa de juros que paga aos bancos por excesso de reservas em 0,50 por cento e vai oferecer até 2 trilhões de dólares em operações compromissadas, um montante agressivo que mostra sua decisão de subir juros.

O impacto sobre custos de empréstimos para empresas e famílias é incerto. Um dos assuntos que os membros do Fed vão monitorar de perto nos próximos dias é como os juros de hipotecas de longo prazo, empréstimos a consumidores e outras formas de crédito vão reagir à alta de juros.

 

Fonte: WASHINGTON (Reuters)

PUBLICADO EM: 17 de dezembro de 2015