Além de reestruturar departamentos que haviam sido praticamente extintos, contratar novos profissionais e criar produtos diferenciados, as companhias têm de convencer clientes que hoje estão sendo atendidos por outros países, em especial a China.
Junta-se a isso o fato de o mundo estar crescendo menos e, portanto, demandado menos produtos. Por isso, avaliam economistas, a retomada de mercado não deve ser tão imediata. A expectativa é que apenas a partir de 2016 o Brasil tenha resultados mais positivos em relação às exportações.
Até agora, apesar de o volume ter aumentado um pouco, o valor das operações caiu 11,5% de janeiro a agosto comparado a igual período de 2014, segundo dados da Fundação Centro de Estudo do Comércio Exterior (Funcex).
O economista da Tendências Consultoria Integrada, Bruno Lavieri, diz que o câmbio demora para fazer efeito nas exportações.
“Num primeiro momento, há a queda das importações, depois a substituição de importações e, por último, o aumento das exportações.” Segundo ele, o ciclo de retomada de mercado dura entre 6 meses e 1 ano.
Para o diretor comercial da Cedro Têxtil, Luiz César Guimarães, no curto prazo, a desvalorização do real representa custo para as empresas, já que muitas delas estão sem estrutura exportadora e o insumo é cotado em dólar. “A médio e longo prazo é uma janela boa para voltar a ter participação no mercado internacional.” A companhia, que chegou a exportar 15% do faturamento, viu suas vendas externas caírem para 2% com a valorização do real nos últimos anos e agora corre para reconquistar antigos clientes.
A tarefa, porém, demanda tempo e não é simples. “Estamos reestruturando o departamento de comércio exterior, que estava com uma estrutura mínima, e contratando representantes em praças que estamos fora.” Além disso, a empresa aposta em produtos diferenciados, com maior valor agregado, para escapar da briga com a China, que oferece um produto sem grandes diferenciações.
Enquanto as empresas brasileiras perdiam competitividade e espaço no mercado internacional, as companhias chinesas avançavam sem parar até mesmo entre nossos vizinhos e parceiros do Mercosul.
A participação do Brasil na Argentina, por exemplo, era de 15,8% em 2005 e agora está em 10,6%. Nesse mesmo período, a fatia da China no país subiu de 7,2% para 18%, afirma o diretor de Desenvolvimento Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Carlos Abijaodi.
Na América do Sul, o market share do Brasil caiu de 41% para 21%.
“Abandonamos o mercado externo e agora temos de reconquistar o cliente, convencê-lo da qualidade do produto e de que temos condições para atendê-lo com prazos adequados.” Além disso, o importador exige certificados e conceitos de sustentabilidade que nem todas as empresas têm de imediato.
O diretor-presidente da Eliane Revestimentos, Edson Gaidzinski, diz que uma das melhores maneiras de se reaproximar dos clientes é marcar presença em feiras internacionais e mostrar a qualidade e diferencial do produto.
Na semana passada, ele participou de um grande evento na Espanha, importante concorrente do Brasil no setor cerâmico. O empresário lembra que, até 2005, 35% da receita da empresa – uma das maiores fabricantes de cerâmicas do País – vinha da exportação. No ano passado, esse número estava em 8% e, neste ano, em 10%.
Nesse intervalo de tempo, o executivo afirma que o mercado interno, superaquecido, compensou a perda de participação no exterior. Mas hoje o ambiente doméstico está ruim e o externo também sofre com a desaceleração. Uma estratégia da empresa é voltar às origens. Foi na década de 80 que a companhia começou a fazer as primeiras exportações. E o mercado escolhido foi o Oriente Médio. Agora a empresa volta os olhos para a reconquista desses clientes.
“Estamos no caminho de reconstrução do mercado perdido”, afirma o superintendente da Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimentos, Louças Sanitárias e Congêneres, Antônio Carlos Kieling.
Até 2014, a fatia do Brasil nas exportações mundiais era de 0,9%. Ao contrário da opinião de alguns economistas, o executivo afirma que a reabertura de mercado demora de 3 a 4 anos. “Em seis meses não se consegue nada, só vender um pedidinho.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Revista Exame