De deep fake à nacionalização: as eleições de 2024 no Tá na Mesa

Especialistas projetaram os desafios, pautas sensíveis, entre outros detalhes do pleito

As projeções e cenários para as eleições municipais de 2024 foram o tema do Tá na Mesa da FEDERASUL, nesta quarta-feira (10). O evento contou com as palestras da cientista social, política e diretora do Instituto Pesquisas de Opinião (IPO), Elis Radmann, e do consultor político e sócio da Critério – Resultado em Opinião Pública, Cleber Benvegnú.

 O presidente da FEDERASUL, Rodrigo Sousa Costa abriu os trabalhos do evento e lembrou da posse dos presidentes de Associações Comerciais ocorrida na terça-feira (9). Segundo o presidente, a solenidade é um exemplo do associativismo empreendedor – valor norteador das atividades da entidade. “São voluntários do associativismo que, com recursos próprios, seguem lutando pelo bem comum, por um propósito, e valores que juntam os empreendedores do Rio Grande do Sul”, lembrou Costa.

A cabeça do eleitor

A diretora do IPO, Elis Radmann, foi a primeira a falar no Tá na Mesa. Para a cientista social e política, há uma diferença muito importante entre os dois últimos pleitos municipais. “A eleição de 2024 é diferente da de 2020, que era uma Jornada de Herói, em contexto de pandemia, havia um sentimento de precisamos que alguém nos salve”, explica.  

Segundo Radmann, em mais de 80 estudos feitos pelo IPO, foi possível um “resumo da cabeça do eleitor”. A especialista enumerou quatro características base para a tomada de decisão dos votantes na escolha de seu representante. A primeira, é o perfil de gestor, levando em conta a “capacidade de administração e visão sistêmica e ampla dos problemas. O eleitor quer alguém que saiba fazer o feijão com arroz, mas saiba resolver novos problemas. Ele não quer um prefeito que só coloque o colete da Defesa Civil, mas que resolva os problemas quando eles aparecerem”, afirma Radmann.

Além disso, influência e tendência de continuidade, ligada à honestidade do candidato, e o reconhecimento e as entregas que ele já fez à sua comunidade são importantes, explica a cientista social e política.

 

 

Deep Fake

Em um contexto de rápida velocidade da informação e novas tecnologias, Benvegnú lembrou que, principalmente no interior, a mídia tradicional – rádio, TV e jornal – ainda pode afetar a decisão das eleições nos municípios. Além disso, as redes sociais e a inteligência artificial aliada à produção de “Deep Fakes” (imagens falsas em áudio e vídeo produzidas com a finalidade de produzir notícias falsas) também serão desafios do pleito. Tudo isso, segundo Benvegnú, afeta na necessidade da profissionalização da comunicação das campanhas, além da necessidade de envolvimento da imprensa no processo eleitoral.

 

Polarização

 A última das quatro características que a pesquisadora identificou é a “verticalização nacional” que está ligada aos reflexos de pautas nacionais nas eleições dos municípios. Esses assuntos devem ter influência da polarização, demonstrando na política nos últimos anos, explica Radmann.  

O consultor da Critério, Cleber Benvegnú, concorda com a diretora do IPO: “Se há 10, 15 anos atrás alguém nos perguntasse, diríamos que o cenário nacional não importa (para as eleições municipais)”. Entre estas pautas, temas polêmicos como linguagem neutra, aborto, gênero entre outros “mexem com os gaúchos”, explica Radmann.

Águia e a galinha

Dessa forma, explica Benvegnú, os candidatos devem ter uma visão tanto dos problemas domésticos de cada município quanto às pautas nacionais. Para exemplificar, ele utilizou da analogia proposta pelo escritor Leonardo Boff, no livro “Águia e a Galinha”. “A galinha olha pro seu bairro, já a águia, para os problemas do país”, afirmou o consultor.  

No entanto, Benvegnú também salienta a dificuldade em se fazer leituras exatas dada a velocidade da opinião do leitor, a qual muda com a rapidez da informação. “Cada eleição daria um livro. A eleição trata de emoção, de ser o portador da esperança, da mudança”.

PUBLICADO EM: 10 de abril de 2024