Segundo ranking elaborado pela Austin Rating, a escalada do dólar, associada ao baixo crescimento econômico, fará o Brasil perder a 8.ª posição entre as maiores economias globais. O cálculo foi baseado em dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), pesquisa Focus (18/09/15) e câmbio de segunda-feira.
Pelo ranking, o Brasil deve começar 2016 na 9.ª posição, atrás do Canadá, que também vive uma recessão econômica. O cenário é bem diferente daquele vivido pelo País no início da década, quando desbancou o Reino Unido e se tornou a 6.ª maior economia do mundo. Na época, consultorias acreditavam que até 2025 o Brasil chegaria à 4.ª posição. Mas o País seguiu caminho inverso e hoje já ocupa a 8.ª posição no ranking.
“A queda contínua no ranking mostra que o País não consegue sustentar seu crescimento econômico. Para o investidor, isso representa incerteza de ter seu investimento de volta”, afirma o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini.
Mas esse não é o único efeito negativo da alta do dólar. Nos últimos anos, com o bom desempenho da economia e abundância de recursos no exterior, as companhias nacionais fizeram grandes captações no mercado internacional. De 2008 para cá, a dívida externa do País cresceu 65%, sendo a maior parte da iniciativa privada.
Levantamento da empresa de informações financeiras Economática com 109 companhias de capital aberto mostra que a dívida em moeda estrangeira das empresas aumentou em R$ 53,9 bilhões entre o fim de junho e ontem. O endividamento saltou de R$ 190 bilhões para R$ 243,9 bilhões. Esse número não inclui a Petrobrás. No caso da petroleira, a dívida sobe de R$ 344,6 bilhões para R$ 442,3 bilhões.
Mesmo que as companhias tenham se protegido das oscilações do câmbio, com as chamadas operações de hedge, o aumento da dívida em reais terá impacto no balanço das empresas. A tendência é de que o lucro sofra o impacto do aumento das despesas financeiras.
Outro efeito da alta da moeda americana será sentido na inflação. Mas, com a economia fraca, a tendência é de que esse repasse seja feito de uma forma mais diluída ao longo do tempo, afirma o economista da Tendências Consultoria Integrada, Silvio Campos Neto. Segundo ele, para cada 10% de aumento do dólar, há um repasse de 0,5% para a inflação. No atacado, o aumento nos preços é direto. Mas, no varejo, a queda no consumo tende a postergar os aumentos.
Alívio. O lado positivo da alta da moeda americana deve ser observado no setor externo. A expectativa é de que o déficit em transações correntes diminua neste ano. A balança comercial, por exemplo, já apresenta recuperação, embora o desempenho seja mais resultado da queda das importações do que da melhora das exportações, que ainda vão levar algum tempo para registrar expansão nos volumes vendidos.
“O Brasil não se preparou com acordos comerciais. Ficou afastado. A conquista de novos mercados demora de um a dois anos para dar retorno”, afirma Campos Neto. “Além disso, não adianta querer vender se nossos principais clientes não querem aumentar as compras. A China está desacelerando e a Argentina está com a economia fraca”, completa Agostini.
Fonte: Estadão