Banco dos Brics pode financiar projetos na Grécia, diz Rússia

A crise da Grécia foi um dos temas tratados no encontro de ministros de Finanças e presidentes de Bancos Centrais dos Brics, mas hoje os países não tomaram uma posição oficial sobre o tema. A reunião ministerial contou com a participação do presidente do Banco Central do Brasil, Alexandre Tombini. Já o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, não participou do evento. Ao final, Siluanov confirmou os rumores de que o governo russo pretende, no futuro, abrir as portas das instituições dos Brics para a Grécia caso a crise com a zona do euro e a União Europeia (UE) chegue a um ponto de ruptura.
Questionado sobre se a economia grega poderia receber recursos do NBD, Siluanov afirmou que projetos de desenvolvimento dos países dos Brics serão prioritários, “mas investimentos em outras nações serão realizados”. Segundo o ministro, a Grécia não receberia neste momento recursos nem da Rússia, nem dos Brics para equilibrar as contas públicas ou recapitalizar o sistema financeiro, mas poderia receber no futuro para financiar desenvolvimento. “A Grécia precisa trabalhar para ter suas responsabilidades de acordo com as possibilidades de sua economia”, disse à agência Reuters.
A hipótese de ruptura na zona do euro, com a saída grega do bloco (Grexit) e também da União Europeia, levantou nas últimas semanas especulações em Atenas e Moscou de que a Grécia poderia até ser convidada a integrar os Brics ou obter linhas de financiamentos no NBD, mas essa hipótese foi afastada até o momento.
“Há sinais aparecendo nos meios de comunicação de que a Grécia pode pedir para se juntar ao Brics New Development Bank. Mas ninguém ainda discutiu o assunto de forma oficial”, afirmou ontem Yuri Ushakov, conselheiro diplomático do presidente da Rússia, Vladimir Putin, em entrevista à agência RIA Novosti e à rede de TV Russia Today. “O banco BRICS ainda deve definir as suas prioridades práticas, começar a funcionar e começar seu trabalho com seus próprios problemas, e não com a Grécia. Mas a questão da Grécia será discutida, a longo prazo, com o novo Brics New Development Bank.”
O presidente da Câmara de Comércio e Indústria da Rússia, Sergei Katyrin, defendeu que o país seja convidado a ingressar no grupo dos grandes emergentes caso retome o crescimento rápido nos próximos anos.
Hipótese. Segundo o representante brasileiro nos Brics, José Alfredo Graça Lima, subsecretário-geral Político, porém, a crise da Grécia nem faz parte do rascunho do comunicado final da 7ª cúpula dos Brics, da qual participarão a presidente brasileira, Dilma Rousseff, o anfitrião, Vladimir Putin, o presidente chinês, Xi Jinping, e o primeiro-ministro indiano, Narendra Modri. “A declaração de Ufá não contém nenhuma declaração sobre a Grécia – tenho todas as razões para acreditar que esse quadro não vai se alterar”, explicou o brasileiro. “No processo de preparação (do texto), o caso grego, apesar das notícias que vêm sendo veiculadas pela imprensa, não está sendo tratado.”
De acordo com Graça Lima, a Grécia não foi objeto de “nenhuma conversa, em nenhum nível” até aqui. “Posso imaginar que haja um projeto de aproximação como os Brics, mas o banco não vai poder ser útil para a Grécia, nem para qualquer outro país em um primeiro momento”, assegurou.
Ainda conforme o diplomata, o país não poderia se beneficiar do NBD para financiar seu endividamento, porque se trata de um banco de desenvolvimento, e não de um fundo de socorro a países em crise. “O banco não foi criado para atender de imediato situações como a Grécia vive nesse momento. É um banco para financiar projetos de investimento e de desenvolvimento sustentável”, explicou.
Além do banco, que terá US$ 50 bilhões em caixa, os Brics estão colocando em operações neste momento um mecanismo de assistência, à imagem do Fundo Monetário Internacional (FMI), denominado Fundo Contingente de Reservas (CRA). Mas o órgão, que disporá de US$ 100 bilhões – dos quais US$ 18 bilhões do Brasil -, só poderá intervir em caso de crise em um dos países-membros do bloco.

Fonte:  Estadão

PUBLICADO EM: 11 de setembro de 2015