Carlos Reis, vice-presidente de Indústria, aponta que há questões complexas que precisam ser sanadas para que a Indústria atinja os objetivos
O Governo Federal aprovou nesta segunda-feira (22) um plano de ações para estimular o desenvolvimento do setor industrial brasileiro. Chamado Nova Indústria Brasil (NIB), o programa envolve seis missões para estimular o desenvolvimento do país por meio de estímulos à inovação e à sustentabilidade em áreas estratégicas para investimento. As ações irão até 2033.
Para o vice-presidente de Indústria da ACIST-SL, Carlos Reis, as ações apresentadas pelo governo federal (veja resumo abaixo) são genéricas. “Para quem vive o dia a dia, as questões são bem mais complexas, pois vivemos num regime controlador, cheio de regras e exigências muitas vezes ultrapassadas, que torna oneroso o processo industrial”, aponta, exemplificando que as obrigações tributárias e fiscais representam um enorme custo e muitas vezes tornam-se um passivo para as empresas.
Outro ponto destacado pelo dirigente é a falta de mão de obra qualificada na base da pirâmide. “O sucateamento das escolas técnicas resultou na diminuição do interesse dos jovens pelos cursos profissionalizantes. Atualmente, há uma grande procura e interesse pelas áreas de tecnologia e marketing. Eu acredito, no entanto, que a indústria é algo extremamente necessário para que toda a cadeia seja impactada e rentável”, ressalta.
Muitos dos pontos apresentados pelo governo não são novidade, diz Reis. Ele observa que grande parte das indústrias tem dificuldade de romper as barreiras dos problemas cotidianos para então, virar a chave e mudar o rumo do próprio negócio. “O processo de desindustrialização no Brasil já está em curso há no mínimo duas ou três décadas Muitos pequenos negócios não conseguem sequer obter créditos e incentivos dado às dificuldades de acesso. É extremamente importante falarmos em atualização dos parques fabris para que a indústria 4.0 torne-se uma realidade, uma vez que grande parcela das empresas ainda não passou da 2.0”, pondera.
Soluções – Para que o plano governamental dê certo, na avaliação do vice-presidente de Indústria, é muito importante a participação das entidades. “Acredito que as entidades têm um papel importante na busca por soluções para parte destes problemas. Por meio da aproximação com outras entidades ou agentes públicos, onde possamos propor mudanças, é possível fazer o exercício para pensar alternativas a curto, médio e longo prazo”.
Como exemplo da importância desta integração, Reis cita o caso recente da ponte construída em Nova Roma do Sul. A união entre a iniciativa privada e uma associação arrecadou recursos e executou a obra num tempo muito menor que o estimado pelo Estado, além do valor muito abaixo do orçamento previsto. “Penso que este caso deve servir como exemplo, não para que os papéis se invertam, pois o papel do Estado segue sendo importantíssimo, mas para que, com a união dos esforços e a pluralidade de ideias, possamos encontrar soluções que impactam a toda a sociedade”, conclui.
Sobre o NIB
A nova política tem seis missões relacionadas à ampliação da autonomia, à transição ecológica e à modernização do parque industrial brasileiro. Entre os setores que receberão atenção estão a agroindústria, a saúde, a infraestrutura urbana, a tecnologia da informação, a bioeconomia e a defesa. A maior parte dos recursos, R$ 300 bilhões, virá de financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii).
As metas estão agrupadas em seis missões, cada qual com suas metas. A primeira – cadeias agroindustriais – pretende garantir segurança alimentar e nutricional da população brasileira. A meta é chegar à próxima década com 70% dos estabelecimentos de agricultura familiar mecanizados. Atualmente, este percentual está em 18%, segundo o governo. Além disso, 95% dessas máquinas devem ser produzidas nacionalmente, o que envolverá a fabricação de equipamentos para agricultura de precisão, máquinas agrícolas para a grande produção, ampliação e otimização da capacidade produtiva da agricultura familiar “para a produção de alimentos saudáveis”, explicou o Planalto.
“– aumentar para 50% participação da agroindústria no PIB agropecuário;
– alcançar 70% de mecanização na agricultura familiar;
– fornecer pelo menos 95% de máquinas e equipamentos nacionais para agricultura familiar.”
O segundo grupo de missões é o da área da saúde, e tem como meta ampliar de 42% para 70% a participação da produção no país, no âmbito das aquisições de medicamentos, vacinas, equipamentos e dispositivos médicos, entre outros. A expectativa é de o Sistema Único de Saúde (SUS) seja fortalecido.
“– atingir 70% das necessidades nacionais na produção de medicamentos, vacinas, equipamentos e dispositivos médicos, materiais e outros insumos e tecnologias em saúde.”
O terceiro grupo de missões – bem-estar das pessoas nas cidades – envolve as áreas de infraestrutura, saneamento, moradia e mobilidade sustentáveis. Ele tem como metas reduzir em 20% o tempo de deslocamento das pessoas de casa para o trabalho. Atualmente esse tempo é, em média, de 4,8 horas semanais no país, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde do IBGE. Além disso, pretende ampliar em 25 pontos percentuais a participação da produção brasileira na cadeia da indústria do transporte público sustentável. Atualmente, essa participação está em 59% da cadeia de ônibus elétricos, por exemplo.
“– diminuir em 20% o tempo de deslocamento de casa para trabalho;
– aumentar em 25 pontos percentuais adensamento produtivo (diminuição da dependência de produtos importados) na cadeia de transporte público sustentável.”
A transformação digital é o foco do quarto grupo de missões, e tem como meta tornar a indústria mais moderna e disruptiva. Atualmente, 23,5% das empresas industriais estão digitalizadas. A meta é ampliar para 90%, e triplicar a participação da produção nacional nos segmentos de novas tecnologias. Serão priorizados investimentos na indústria 4.0 [quarta revolução industrial, que abrange inteligência artificial, robótica, internet das coisas e computação em nuvem] e no desenvolvimento de produtos digitais e na produção nacional de semicondutores, entre outros.
“– digitalizar 90% das indústrias brasileiras;
– triplicar participação da produção nacional no segmento de novas tecnologias.”
O quinto grupo de missões será focado na bioeconomia, descarbonização e transição e segurança energéticas. A meta é ampliar em 50% a participação dos biocombustíveis na matriz energética de transportes. Atualmente os combustíveis verdes representam 21,4% dessa matriz. O governo pretende reduzir em 30% a emissão de carbono da indústria nacional, que está em 107 milhões de toneladas de CO2 por trilhão de dólares produzido.
“– cortar em 30% emissão de gás carbônico por valor adicionado do Produto Interno Bruto (PIB) da indústria;
– elevar em 50% participação dos biocombustíveis na matriz energética de transportes;
– aumentar uso tecnológico e sustentável da biodiversidade pela indústria em 1% ao ano.”
Já o sexto grupo de missões abrange a área da defesa. O plano pretende “alcançar a autonomia na produção de 50% das tecnologias críticas de maneira a fortalecer a soberania nacional”. Para tanto, priorizará “ações voltadas ao desenvolvimento de energia nuclear, sistemas de comunicação e sensoriamento, de propulsão e veículos autônomos e remotamente controlados.”
“– autonomia de 50% da produção de tecnologias críticas para a defesa.”
Elizabeth Renz