Quatro empresários afetados pelos alagamentos disseram, no Tá na Mesa, que estão abandonados no meio da catástrofe
As narrativas falsas e as barreiras impostas pelo Governo Federal, dificultando o acesso aos recursos, estão impedindo a retomada da economia gaúcha após a tragédia climática de maio. Os empresários entendem que há distorções na distribuição dos recursos que não ajudam quem realmente precisa. Criticaram a decisão do Governo de não liberar empréstimos diretamente pelo BNDES, mas repassando a bancos privados, que acabam elevando as taxas com o spread bancário. “Empresas menos afetadas estão recebendo dinheiro”, lamentou o empresário Ângelo Fontana, da Fontana S/A, que também é presidente da CIC Vale do Taquari. Ele acrescentou que existe muita promessa do Governo Federal e pouca ação. “O Rio Grande do Sul terá que se reinventar, estamos enfrentando a falta de recursos e a falta de apoio”, afirmou.
Essas foram algumas das conclusões que chegaram os empresários durante a reunião-almoço da FEDERASUL desta quarta-feira, 19. Com a coordenação do presidente Rodrigo Sousa Costa, o Tá na Mesa desta semana reuniu alguns empreendedores gaúchos que tiveram suas empresas atingidas pelas cheias para debater a Superação pelo Empreendedorismo. Eles argumentaram ainda que os R$ 15 bilhões anunciados pelo Governo como empréstimos, pouco estão chegando com juros acessíveis às empresas realmente afetadas e impedem a recuperação das perdas sofridas com as três cheias que atingiram o Estado nos últimos meses.
“Numa tragédia desta magnitude, os empregos e as empresas da iniciativa privada não conseguiram se reerguer sem dinheiro novo a juros subsidiados”, argumentaram e, num só som, explicaram que as empresas precisam do alongamento dos prazos do empréstimos já existentes, de dinheiro novo à fundo perdido e de um fundo garantidor já que as garantias que poderiam dar foram perdidas na tragédia.
O empresário Ângelo Fontana disse que a situação é bastante preocupante porque apesar das promessas, as empresas não estão recebendo nenhum apoio do Governo Federal. Relatou que depois de três cheias, sua empresa está paralisada e que mesmo com todas as dificuldades está mantendo seus quase 300 funcionários.
O diretor da Lajeadense Vidros, Renato Arenhart, lamentou que o Governo tenha anunciado financiamentos com juros de 1%, quando na realidade, ao transferir os recursos para bancos privados, a taxa sobe para 7%, inviabilizando o acesso diante das dificuldades em assumir dívidas nessas condições após os prejuízos sofridos com as cheias.
O Padre Gerson Bartelli, secretário da Associação dos Amigos de Nova Roma do Sul (que reconstruiu a ponte de ferro que liga Nova Roma do Sul à cidade de Farroupilha) destacou que “quando esperamos pela iniciativa pública, esperamos muito tempo”. Reforçou a importância da união e força e do espírito de trabalho das pessoas na luta pela superação. Disse que o Estado tem um desafio muito importante pela frente e defendeu que parte dos impostos recolhidos fique nos municípios como garantia para investimentos locais.
O CEO do Instituto Caldeira, Pedro Valério afirmou, por sua vez, que não há nada de concreto acontecendo. Lamentou que a demora do Governo em liberar recursos coloca em risco a capacidade de reconstrução do Estado, que desta vez não depende somente da iniciativa privada. Acredita, no entanto, no papel transformador do empreendedorismo, mas alerta que chegou o momento de levantar o tom de voz e mostrar indignação. “Estamos abandonados no meio desta catástrofe”, declarou.
O presidente da FEDERASUL Rodrigo Sousa Costa, novamente cobrou urgência do Governo Federal na busca de solução para o acesso aéreo do RS, através da ampliação da operação na Base Aérea de Canoas, para evitar os enormes prejuízos sociais e econômicos decorrentes até o retorno do aeroporto Salgado Filho;
– Num Estado que sofre a destruição de uma guerra, sem estar em conflito, precisamos de maior apoio do Governo Federal, porque o momento exige superação e despreendimento para recuperar uma normalidade mínima de acesso aéreo ao RS. Temos duas bases militares aéreas, precisamos buscar alternativas para ampliar drasticamente a operação comercial emergencial da base de Canoas, suprindo a maior parte do déficit de 90 vôos diários do Salgado Filho e evitando que se agravem os prejuízos sociais desta tragédia.
Complementou dizendo que o Governo não está dando ao RS respostas à altura da tragédia sofrida. “Precisamos desconstruir esta narrativa de que muito está sendo feito quando na verdade falta dinheiro, apoio e decisões políticas para a reconstrução do Rio Grande do Sul”, concluiu.