Tá na Mesa: Estratégias para enfrentar cheias na região metropolitana

Dois especialistas na área elencaram os principais pontos críticos, falaram sobre a história das enchentes e detalharam as soluções técnicas

Fernando Dornelles, Rodrigo Sousa Costa, Antoniony Winkler.

Nesta quarta-feira (4), o Tá na Mesa da FEDERASUL reuniu dois especialistas para discutir um tema crucial para a região metropolitana de Porto Alegre: o enfrentamento das cheias. A reunião-almoço contou com a participação do engenheiro agrícola e doutor em manejo e conservação de solo e da água Antoniony Winkler, e do doutor em recursos hídricos e saneamento ambiental e professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da UFRGS Fernando Dornelles. Ambos salientaram a necessidade que a catástrofe não seja esquecida.

Na abertura do evento, o presidente da FEDERASUL, Rodrigo Sousa Costa, agradeceu aos convidados pela prontidão em falar na entidade e elogiou os recentes anúncios do governo federal para auxílio ao agro gaúcho. “É uma resposta pública extremamente benéfica, que evitará um êxodo rural”, explicou. 

Presidente da FEDERASUL, Rodrigo Sousa Costa

No entanto, ele também ressaltou a necessidade de que o apoio governamental seja estendido à indústria e ao comércio, destacando que o desenvolvimento econômico do Rio Grande do Sul depende de todos os setores produtivos. “Não podemos deixar nenhuma peça da engrenagem para trás”, afirmou. 

 

Pontos vulneráveis e soluções  

Antoniony Winkler iniciou a discussão do tema deste Tá na Mesa, abordando soluções técnicas para fortalecer o sistema de contenção, além da contínua abordagem do tema das enchentes na opinião pública para evitar o esquecimento do problema. O engenheiro agrícola destacou sete pontos críticos no sistema de contenção de cheias da região metropolitana, apontando soluções técnicas para cada um. Entre os problemas identificados estão as cabines de alvenaria e transformadores elétricos, que estão posicionados abaixo da cota de inundação, tornando-os vulneráveis em situações de cheia. 

Antoniony Winkler.

Para mitigar esses riscos, Winkler sugeriu que as casas de bombas e os transformadores sejam levantados ou vedados, garantindo que permaneçam operacionais durante eventos de inundação. Além disso, ele ressaltou a necessidade de implementar geradores de energia movidos a diesel, já que a falta desse recurso deixa o sistema de bombas inoperante em casos de falta no fornecimento pela concessionária, como aconteceu em Porto Alegre. 

Outras vulnerabilidades incluem as cristas dos diques, que precisam de diagnóstico e recuperação, informa o especialista. Para os motores, a solução indicada foi substituí-los por motores de baixa polaridade, mais fáceis de encontrar e manter. Ele também sugeriu a substituição dos quadros de partida e por fim, a necessidade de substituir as antigas comportas “flap”, que estão corroídas ou ausentes, por modelos mais modernos e eficientes. 

 

Reconstruir melhor

O professor Fernando Dornelles iniciou apresentando um levantamento detalhado do que ocorreu durante as enchentes de maio, que atingiu 45 centímetros mais do que a histórica inundação de 1941, o que revelou falhas críticas no sistema de proteção, como a entrada de água através das casas de bombas e a falta de vedação adequada em comportas essenciais. “A importância de olhar para trás é evitar cometer os mesmos erros e reconstruir melhor”, afirmou.

Professor do IPH (UFRGS), Fernando Dornelles

Dornelles destacou que o sistema de proteção de Porto Alegre, embora vital, não oferece uma garantia absoluta contra inundações. Ele defendeu a necessidade de manutenção constante e melhorias nas estruturas existentes para minimizar o risco de falhas futuras. “Precisamos estar cientes de que este sistema pode falhar e devemos trabalhar incessantemente para evitar que isso aconteça”, afirmou. 

Ele também defendeu a importância de políticas públicas voltadas para a habitação em áreas alagáveis e também um programa específico para enchentes. “Precisamos de um programa que exija que esses sistemas funcionem, como o plano de segurança de barragens, afirmou”. Como exemplo, Dornelles citou o exemplo de Paris, que possui um plano de contingência para a proteção do Museu do Louvre, localizado em uma área suscetível a inundações do Rio Sena.

 

Insegurança jurídica

Ainda na abertura do evento, o presidente da FEDERASUL criticou a atuação do Ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, especialmente no contexto do suspensão da rede social X (antigo Twitter), que, “ameaçam as liberdades individuais”. O presidente da FEDERASUL expressou preocupação com o clima de medo que ele percebe na sociedade, “onde as pessoas se sentem intimidadas”.

Para o Rodrigo Sousa Costa, decisões como estas mexem com a confiança do mercado internacional. Ele defendeu o direito de crítica como um pilar essencial da democracia e enfatizou a necessidade de um debate livre e aberto para a correção das leis. 

 

Diretor executivo da Lamb, Júlio César Bratz Lamb

Homenagem

Ao final do evento, houve uma homenagem especial à empresa Lamb Construções e Engenharia, que completou 38 anos de atuação. 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fotos: Sérgio González

PUBLICADO EM: 4 de setembro de 2024