Documento divulgado nesta terça-feira (02) foi construído por diversas lideranças empresariais de todo o estado
Durante o 20º Congresso da Federasul, realizado em Bento Gonçalves entre os dias 27 a 29 de junho, lideranças empresariais do Rio Grande do Sul expressaram profunda preocupação com a resposta do governo federal à catástrofe ocorrida em maio de 2024. A Carta de Bento Gonçalves, divulgada nesta terça-feira (02), resultado das oficinas de trabalho, interação e debates durante o evento, destaca a morosidade e baixa efetividade das políticas públicas anunciadas para o resgate socioeconômico.
No documento, as lideranças ressaltam a promessa do Governo Federal de um aporte de R$ 92 bilhões, considerado suficiente para a reestruturação do estado se fosse composto por recursos novos e aplicados com sensatez. No entanto, a realidade, segundo a carta, é que a maior parte dos recursos são adiantamentos de valores já pertencentes aos gaúchos e empréstimos com juros proibitivos.
Distorção
A desconexão entre as soluções propostas por Brasília e as necessidades das lideranças locais foi um ponto de angústia destacado. A carta aponta que essa desconexão está contribuindo para o aumento do desemprego, fechamento de empresas e êxodo de trabalhadores, comprometendo a capacidade produtiva do estado.
Os empresários também criticaram a distorção da opinião pública nacional gerada pelos anúncios governamentais, que criam uma falsa expectativa de resolução dos problemas. Eles destacam que mesmo que o aporte de R$ 92 bilhões fosse totalmente realizado, seu efeito seria mínimo para a recuperação real do estado.
Entre as principais reivindicações estão:
1.Aeroporto Salgado Filho: Urgência nas negociações para o aporte de valores necessários para a retomada rápida das operações, devido às enormes perdas econômicas causadas pela inatividade do terminal.
2. Política de Estado para o RS: Implementação de uma política semelhante à adotada durante a pandemia, permitindo a suspensão de contratos de trabalho com pagamento integral equivalente ao seguro desemprego, visando preservar empregos e evitar o êxodo de trabalhadores.
3. Interação com o Governo Federal: Necessidade de uma interação efetiva com as forças vivas da sociedade gaúcha para construir políticas públicas que promovam a boa gestão de recursos novos e sejam efetivas em seus objetivos.
Por fim, a carta reafirma a determinação das lideranças em superar as dificuldades através do trabalho, produção e busca por excelência, adaptando-se à nova realidade climática e contribuindo para a geração de riquezas no Brasil.
Confira o texto, na íntegra:
Bento Gonçalves, 29 de junho de 2024
CARTA DE BENTO GONÇALVES
Lideranças empresariais de todo estado do Rio Grande do Sul, atingidas direta e indiretamente pela catástrofe de maio de 2024, reunidas no 20º Congresso da Federasul, em Bento Gonçalves, manifestam profunda preocupação tanto com a morosidade nas respostas quanto com a baixa efetividade das políticas públicas anunciadas como sendo para o resgate socioeconômico. A angústia foi formalizada a partir das oficinas de trabalho, da interação e dos debates neste novo momento em que a população e a iniciativa privada estão engajadas na superação e na recuperação da capacidade produtiva de nosso estado.
No cerne de nossa preocupação está uma narrativa com anúncios de aportes do Governo Federal em montantes superiores a R$ 92 bilhões – os quais poderiam ser suficientes à reestruturação do RS, se correspondessem de fato a recursos novos aplicados com sensatez e assertividade –, mas que, na realidade, vêm na maior parte como liberações de adiantamentos de valores que já pertencem aos gaúchos e que nos faltarão logo ali na frente, como vêm também na forma de empréstimos com juros proibitivos e em condições inacessíveis às vítimas prioritárias.
Nossa angústia é ainda maior quando percebemos que as soluções propostas por Brasília vêm desconectadas dos diagnósticos e solicitações das lideranças que vivenciam o problema no RS, contribuindo com o desalento, a onda de demissões, o fechamento de empresas e o êxodo da força de trabalho para outros estados, como já começam a aparecer nas estatísticas oficiais, comprometendo parte de nossa capacidade produtiva e contributiva para com o Brasil.
Ressaltamos ainda a distorção que estes anúncios geram na opinião pública nacional, criando a falsa expectativa de resolução do problema, pela fiscalização por parte dos meios de comunicação de uma política pública que não se presta ao efetivo resgate, com um amparo fictício de R$ 92 bilhões, com baixo aporte real de dinheiro novo que, mesmo 100% realizado, terá baixíssimo efeito para a recuperação.
No cumprimento de nosso papel enquanto Sociedade Civil Organizada, trazemos as seguintes contribuições, caminhos e alertas que surgiram de análises técnicas e dos sentimentos que afloram na classe produtiva quando decide reconstruir, investir, avançar ou esperar:
Urgência máxima nas negociações pendentes entre o Governo Federal e a concessionária com o imediato aporte dos valores necessários para o mais rápido retorno possível das operações do Aeroporto Salgado Filho. As enormes perdas econômicas mensais já anunciadas pela ausência deste terminal aeroviário não estão levando em conta os prejuízos definitivos futuros pelo fechamento de empresas de segmentos dependentes do transporte aéreo, incapazes de resistir à uma perda de faturamento tão drástica por 06 meses;
Na semana do 5º dia útil de julho para a folha de pagamento, quando milhares de trabalhadores e empresas atingidas precisam de renda, reafirmamos enfaticamente a necessidade de uma política de Estado para o RS, à exemplo das que foram efetivadas com sucesso durante a pandemia em todo país, que permita a suspensão dos contratos de trabalho com pagamento integral de valor equivalente ao seguro desemprego para os trabalhadores. Já estamos colhendo perdas terríveis de empregos, empresas e êxodo pelo não atendimento desta solicitação no final de maio, com o custo do seguro desemprego recaindo de qualquer forma sobre a União, sem o benefício de preservar os postos de trabalho;
Solicitamos uma interação efetiva e permeável por parte do Governo Federal com as forças vivas da sociedade gaúcha, sobre o amplo conjunto de ações necessárias urgentes, de médio e longo prazos, desde financiamentos de capital de giro e reconstrução, reposição de perdas de arrecadação municipal e estadual, recuperação de residências, reestruturação de infraestrutura pública…, para que possamos, através de uma convergência social e política mínima, construir em conjunto políticas públicas que propiciem a boa gestão de recursos novos aportados, sendo efetivas em seus objetivos.
Reiterando os graves prejuízos sociais e econômicos que começam a se consolidar pela ausência de ações urgentes do Governo Federal, focadas na efetiva solução dos problemas e à altura da magnitude da tragédia, mas com fé em tempos melhores, de sensatez e equilíbrio nas decisões, manifestamos nosso firme propósito de superar as dificuldades por nossos maiores esforços como povo gaúcho, através do trabalho, da produção e da busca por excelência para uma reconstrução adaptada à nova realidade climática, que volte o mais rápido possível a contribuir expressivamente com a geração de riquezas do Brasil.