Exportação agrícola gaúcha cai 6,1%

Em declínio e com perspectiva de se manter em queda neste ano, o preço das commodities tem reduzido os resultados da exportação do agronegócio, setor que embora continua crescendo em volume exportado no Brasil, tem obtido menores resultados financeiros por conta dos valores negociados no mercado internacional.
Os apontamentos são da Fundação de Economia e Estatística (FEE), que, na tarde de quinta-feira, apresentou os Indicadores Econômicos do Agronegócio, com dados relativos ao emprego formal e às exportações do agronegócio do Brasil e do Rio Grande do Sul. Segundo o levantamento, as exportações gaúchas do agronegócio totalizam US$ 11,6 bilhões, retração de -6,1% na comparação com 2014.
A presença do agronegócio nas exportações gaúchas, no entanto, está longe de perder a importância: representa 66,6% do total exportado pelo Estado em 2015. O volume das exportações também cresceu quando comparado ao ano anterior, com alta de 27,6%. O economista da FEE Sergio Leusin Júnior detalha que o saldo negativo é efeito da queda dos preços das commodities no mercado internacional, cenário que deve permanecer neste ano. “Nossa produção agropecuária vem crescendo, então o desempenho das exportações não está diretamente relacionado com a nossa produtividade, pois aumentamos as exportações em volumes”, frisa.
O problema é que há um preço menor, que está puxando a remuneração para baixo, sofrendo efeito de inúmeros fatores. “Há uma tendência mundial de queda nos preços das commodities, com razões variadas, como o maior estoque em relação ao consumo, no caso dos produtos alimentícios. Há relação ainda com a queda no preço do petróleo, arbitragem internacional dos índices das commodities e de ativos financeiros, ao aumento da produção em algumas regiões”, elenca Leusin.
Por outro lado, a redução dos resultados das exportações do agronegócio foi atenuada pela desvalorização do real frente ao dólar. Foi na variação cambial que o exportador conseguiu amenizar o efeito da queda nos preços internacionais, consolida o economista. “O alento é que está em curso uma desvalorização do real, o que compensa o exportador que recebe em dólares.” O lado perverso da variação cambial é, que se mantida a alta do dólar, lá na frente, no plantio da próxima safra, os custos também podem subir e comprometer ainda mais o resultado, pondera.
As exportações do agronegócio gaúcho foram puxadas para baixo pelo setor de máquinas e implementos agrícolas, com redução de 40,6%, impactado pela diminuição das remessas para Paraguai, Argentina e Uruguai. No sentindo inverso, puxaram para cima os resultados o segmento de produtos florestais, que, graças ao aumento da capacidade produtiva no Estado, cresceu 70,9%.
O setor lácteo, que vem ampliando a sua participação no mercado global, foi o que mais contribuiu positivamente para os resultados das exportações, com crescimento de 190% no volume exportado e de 130% em valor. Leusin considera que é questão de tempo para que o segmento de lácteos se consolide no cenário internacional.
“Estamos em negociações avançadas com a Rússia e a China, então o cenário para exportação de lácteos é favorável.” Em 2015, o principal comprador do leite em pó gaúcho foi a Venezuela. De maneira geral, a China permanece como o principal comprador das mercadorias do agronegócio gaúcho (US$ 4,2 bilhões em 2015).
Para 2016, o economista prevê continuidade de redução no preço das commodities. “Os dados de janeiro não são animadores, mas é precitado fazer afirmações”, demonstra. “Ao que tudo indica, não haverá uma reversão da queda nos preços, porque os dados de janeiro apontam para a continuidade da diminuição nos valores internacionais.”

Retração da indústria de implementos agrícolas eleva taxa de desemprego no agronegócio

O dinamismo do emprego formal tem sido positivo no agronegócio do Rio Grande do Sul, mas, ainda assim, não tem conseguido fazer frente ao contexto econômico negativo. De acordo com dados da FEE, que passa a acompanhar o movimento de geração de vagas celetistas no setor (números que serão publicados trimestralmente), o Rio Grande do Sul perdeu 3.983 postos de trabalho no ano passado.
Segundo o economista e coordenador do Núcleo de Estudos do Agronegócio da FEE, Rodrigo Daniel Feix, o principal fator que justifica essa redução é a retração da indústria de máquinas agrícolas. “As condições de crédito e as expectativas deterioradas pelo ambiente econômico acabaram por afetar as vendas desse setor, principalmente para o mercado interno”, sinaliza.
O economista acrescenta que a redução do emprego formal no agronegócio é uma tendência nacional, que vem sendo acompanhada pelo Rio Grande do Sul, com algumas peculiaridades. “Nós temos uma indústria de máquinas agrícolas mais desenvolvida aqui no Estado. E o momento difícil dessa indústria acabou por determinar uma redução dos empregos totais do agronegócio gaúcho”, explica. Ele compara que, em nível nacional, o desempenho mais fraco foi registrado em setores da indústria de transformação vinculados, principalmente, ao setor sucroalcoleiro, que tem apresentado um desempenho mais baixo.
Prova de que o desemprego no setor está mais ligado ao segmento de máquinas agrícolas são as localidades que registraram a maior redução de postos formais e maior atividade nesse segmento. “Quando analisamos os municípios que mais perderam emprego, entre os 10 principais, seis são conhecidos pela especialização na produção de plantadeiras, colheitadeiras ou outros implementos agrícolas.”
Segundo o levantamento da FEE, o setor de fabricação de tratores, máquinas e equipamentos agropecuários perdeu 4.742 empregos em 2015, uma redução de 16,8% em relação a 2014. Os outros segmentos que registraram mais demissões, na sequência, são o de produção de lavouras permanentes, com -1.031 registros formais (variação de -12,3%); fabricação de produtos intermediários de madeira, com redução de 816 postos de trabalho (-8,4%); fabricação de conservas, que registrou redução de 21,9%, na comparação com o ano anterior, e diminuição de 767 vagas.
Na outra ponta, estão puxando empregos setores como o de abate e fabricação de carnes, que garantiu o maior incremento na formalização de mão de obra celetistas, com 941 postos de trabalho e aumento de 1,9% em relação a 2014. O apoio à agropecuária e à produção florestal vem na sequência, com a abertura de 797 novas vagas, seguido da pecuária (740 empregos registrados em 2015) e fabricação de rações (728). Atualmente, o agronegócio representa 12% do total de registros celetistas no Estado, que detém a quarta posição no ranking nacional de geração de emprego no setor.
 
Fonte: Jornal do Comércio
PUBLICADO EM: 12 de fevereiro de 2016