Crise no transporte marítimo ainda sem previsão de solução

 

Tráfego mundial de navios congestiona portos, atrasa entregas e mesmo com ajustes na oferta não há navios e nem contêiners para suprir demanda que veio com a pandemia

                A pandemia afetou o setor de cargas marítimas criando um caos logístico internacional. Fez disparar os preços dos fretes e aumentou o tempo de espera dos navios que estão em falta, assim como os contêineres. Para dar um exemplo da gravidade da situação basta lembrar que o custo de contêiner de 20 pés na rota Xangai-Santos que era de US$ 1.500 em agosto de 2020 passou para US$ 11 mil, lembrou o presidente da FEDERASUL, Anderson Trautman Cardoso, na abertura do Tá na Mesa desta quarta (03).

A solução, no entanto, não está ainda no radar do setor e depende de vários cenários, estimou Leandro Barreto, Managing Director da Solve Shipping. Ele foi o palestrante do Tá na Mesa, onde falou sobre “Caos Logístico Internacional”. Segundo informou, 12,5% da capacidade mundial de transporte marítimo está congestionada em portos.

         Ele desenhou cenários considerando várias circunstâncias para a solução ou redução dos graves problemas que afetam todo planeta. Entre elas, está o que os países irão fazer com um possível agravamento da COVID-19 e o arrefecimento nos congestionamentos dos portos internacionais, além da redução da dependência de compras com a China. “Frete serve como excelente instrumento de arrefecimento de demanda”, explicou.

         Disse também que os problemas não estão só nos oceanos, mas também na parte terrestre, pois faltam motoristas, especialmente na Europa, para transportar os produtos que chegam nos portos. Lembrou que apenas no porto de Long Beach, nos EUA, existe uma fila de 100 navios para descarregar. “Os portos estão congestionados de navios”, enfatizou.

         Barreto traçou uma linha do tempo com toda a crise no setor, desde 2008 e mostrou as oscilações que o segmento passou desde então e que foram agravadas pela pandemia em vários sentidos. Primeiro porque tudo parou, depois porque os novos hábitos criados fizeram crescer, exponencialmente, o e-commerce exigindo uma grande demanda global. “O segmento, que já vinha com problemas antes da pandemia, com oferta e procura equilibradas, não encomendava mais navios e contêiners”, explicou.

         Armadores perderam dinheiro e reduziram os investimentos. Em 2016 novo prejuízo na cadeia do setor, destaca Leandro. Porém, neste momento “o lucro  disparou’”, disse Barreto. “Na última década os armadores perderam 100 bilhões de dólares, mas o lucro só em 2021 deve ficar entre 100 e 150 bilhões de dólares. Os armadores vão recuperar em um ano mais que perderam em dez anos”, concluiu.

Como consequência da gangorra de altos e baixos no transporte marítimo global, os armadores, historicamente, reduziram os investimentos e os novos pedidos levam de dois a três anos para serem entregues. “Hoje os navios vão sair dos estaleiros em 2023 e 2024 e ainda que as encomendas estejam ativas, não há navio”, esclarece.

PUBLICADO EM: 3 de novembro de 2021