SIMONE LEITE
Presidente da Federasul
Na chegada do inverno, conforme todos prevíamos, aumentou a necessidade de leitos de UTIs, tanto pela Covid-19 quanto por outras doenças. Com o abre-e-fecha de empresas, despencou a arrecadação tributária e o dinheiro do governo federal serviu para tapar o rombo da folha de pagamento dos servidores. Hospitais filantrópicos, indispensáveis para o combate a pandemia, agora encolhem por falta da receita dos procedimentos eletivos.
Numa doença ainda nova, há poucas verdades científicas. Milhares de especialistas partem de suposições ainda empíricas para embasar o método de lidar com a pandemia. Governadores e profissionais da saúde, sem poder esperar por certezas científicas, tomam decisões sobre a vida, a morte, o trabalho e a fome iminentes.
Não é razoável que um pequeno grupo de servidores públicos decida sobre tanto, sem a mínima participação dos afetados, sem ouvir especialistas de outras áreas. É inacreditável que prefeitos eleitos tenham que recorrer de decisões já tomadas das quais não participaram.
Empresários e trabalhadores estenderam a mão desde o início, com alimentos, trabalho e recursos para amenizar o caos que viria, vendo sua participação cada vez mais cerceada, restrita a entregar recursos para que o governo faça uso. Poderíamos estar numa situação muito melhor, se o governo tivesse aberto espaço real na construção de soluções e feito a sua parte.
A vida deve ser preservada agora e no futuro. A classe empresarial, deveria ter participação efetiva no restrito Comitê que decide atividades e investimentos. Queremos mais especialistas para ampliar a visão do que está por vir, para retratar com nitidez a perda de capacidade de atendimento na saúde decorrente da retração econômica e inflada pelos milhares de desempregados que migram de planos privados para o SUS. Reivindicamos indicadores socioeconômicos e análise dos efeitos práticos dos decretos, com milhares de pessoas proibidas de estar em ambientes de trabalho altamente controlados, mas que se aglomeram sem trabalhar, em notória desobediência civil. Assistimos apenas um Estado pintado de vermelho.
O governo do RS, permanecendo intransigente, será responsável pela maior destruição de empregos e empresas da história de nosso Estado bem como pela perda de milhares de vidas na esteira da falta de serviços públicos que a quebra da arrecadação vai resultar. Tempos difíceis exigem o melhor de cada um de nós. Somente juntos superaremos este desafio.