Iniciada em 2013, a primeira etapa do convênio se encerrou no mês passado com 30 empresas participantes, a maioria delas gaúchas. Dessas, 17 já exportam de maneira direta, número que deve aumentar a 25 até 2017. Elas são responsáveis, hoje, por 39% do total da venda de arroz beneficiado, principal foco do projeto por ter maior valor agregado. “Assim, geramos empregos aqui, fugindo da situação da soja, por exemplo, quase toda vendida in natura”, argumenta o gerente do Brazilian Rice, André Anele.
Em 2014, o produto beneficiado representou 42% da exportação total do Brasil (o restante se dividiu entre o arroz quebrado, 40%, e o arroz em casca, 18%). A meta é chegar no fim da nova etapa, em 2017, com o produto beneficiado sendo responsável por 50% da exportação. “Se levarmos em conta apenas o arroz de alta qualidade, temos preço competitivo. Temos certificações, garantias de segurança alimentar, nossa indústria é sustentável ambientalmente, que nos diferencia no mercado”, argumenta Anele, que cita a Arábia Saudita como um dos países dispostos a pagar mais pelo arroz com essas características.
A nação asiática, aliás, é um dos países-alvo da nova etapa do projeto, junto a Estados Unidos, Panamá, Peru, África do Sul e Angola. Para o analista da Apex ligado ao projeto, Alberto Carlos Bicca, produtos derivados do arroz, como farinha e biscoitos, também receberão atenção especial. “Dentro da tendência de busca por alimentos mais saudáveis, o arroz tem a vantagem de não possuir glúten, podendo atingir esses outros segmentos”, comenta o executivo. Outras questões, como embalagens mais rebuscadas e sugestões de consumo serão trabalhadas nos próximos meses, além de participações em feiras e convenções do setor pelo mundo.
Presentes no lançamento da nova etapa do convênio, ontem, representantes das entidades orizícolas foram unânimes a respeito da importância do projeto como forma de consolidar o Brasil como um personagem global na exportação do grão. “Com o projeto, as empresas podem consolidar sua atuação comercial, que tem de ser planejada. Nosso objetivo é deixar de ter clientes para ter fregueses, que compram nosso produto porque o reconhecem”, argumenta Mário Pegoraro, diretor-presidente da Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz), instituição que encabeça o Brazilian Rice.
“A iniciativa é de fundamental importância, visto que a exportação pelo Brasil ainda é recente e precisa amadurecer e se qualificar em diversos aspectos”, detecta o diretor comercial do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), Tiago Sarmento Barata. A disparada recente do dólar também é apontada como um aspecto, ainda que pontual, que também ajudará na atração de novos mercados. “Ao mesmo tempo em que o Rio Grande do Sul produz mais de 70% do arroz brasileiro, somos o Estado com o menor consumo per capita. Excedentes temos, o desafio é a logística”, continua Barata.
O presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Estado (Federarroz), Henrique Dornelles, também concorda que o Rio Grande do Sul necessita qualificar sua infraestrutura, principalmente portuária, caso deseje realmente se consolidar na exportação do arroz. “Temos que tornar nosso transporte mais fácil e competitivo, qualificando um terminal especificadamente para o arroz, que tem exigências diferentes”, comenta. A unidade da Companhia Estadual de Silos e Armazéns (Cesa) em Rio Grande é pretendida para esse fim pela entidade, que negocia os termos com o governo há alguns anos. “Com a exportação direta potencializada pelo Brazilian Rice, também conseguimos pulverizar a demanda e ficar menos à mercê das grandes trandings”, complementa Dornelles, que descreve o crescimento nas vendas externas como “fundamental” para a rentabilidade do campo.
Fonte: Jornal do Comércio