O balde de água fria na ambição brasileira foi dado depois de dois dias em que reuniões foram realizadas entre autoridades de Brasil e União Europeia na capital belga. Durante a viagem de avião a Bélgica, a presidente chegou a propor aos seus ministros que a data de 18 de julho fosse escolhida para a troca de ofertas – uma forma de estabelecer um prazo limite claro. As férias de verão europeu e as pendências nas negociações, no entanto, esfriaram o ímpeto.
Na quarta-feira, 10,a comissária de Comércio da UE, Cecilia Malmström, e o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, participaram de uma reunião ministerial que teve a participação de Carlos Bianco, secretário Relações Econômicas Internacionais do Ministério das Relações Exteriores da Argentina. No final, Cecilia e Vieira informaram que a troca deve acontecer “no quarto trimestre”.
“Queremos ver um acordo de comércio ambicioso, que crie oportunidades nos dois lados do Atlântico”, disse Cecilia, ponderando a seguir: “Para obtermos sucesso e trocar nossas ofertas, ainda temos trabalho a fazer. Temos de oferecer um ao outro garantias sobre o nível de ambição das respectivas ofertas”.
De acordo com a comissária, “ninguém ainda está preparado para a troca de ofertas”. “Por isso vamos aumentar o trabalho técnico. Os dois lados têm questões”, justificou. Com o evoluir das discussões, se os dois lados “estiverem confortáveis” e se os processos técnicos “andarem”, Cecilia espera “ter a possibilidade de trocar ofertas até o final do ano”.
Mauro Vieira informou que reuniões técnicas vão ser realizadas ao longo do segundo semestre. “Os negociadores dos dois países se encontrarão no meio tempo, de hoje até a reunião que teremos para a troca de ofertas, para esclarecer alguns detalhes”, explicou o chanceler. “Até lá, cumpriremos todos os rituais necessários nos dois blocos para efetivamente trocarmos nossas ofertas até o último trimestre do ano”, completou.
A falta de uma data clara, entretanto, não abalou o otimismo de Dilma Rousseff. Falando aos jornalistas em paralelo à coletiva de seu chanceler, a presidente garantiu que as negociações prosseguirão até a troca de ofertas. “Não saio frustrada. Isso não significa que não terá data”, argumentou. “Nós vamos fazer uma proposta de troca de ofertas. Eles têm de olhar as condições deles e fazer a mesma proposta.”
De acordo com a presidente, foi importante que o Mercosul sinalize “que vai unido”. Dilma não mencionou o nome do país, mas a referência dizia respeito às restrições que até aqui vinham sendo impostas pela Argentina – e que, a julgar pelo discurso da presidente e de ministros brasileiros, estariam superadas.
Dilma defendeu a Argentina, recusando a pergunta sobre se seu governo teria “perdido a paciência” com o país vizinho. “É um grande parceiro nosso. Nós temos de ter toda a consideração com a Argentina”, afirmou. “E não existe motivo para a Argentina não ir conosco. Ela tem essa disposição.” Segundo a presidente, atribuir à Argentina a lentidão nas discussões para o acordo é “uma conversa que eu diz que a culpa é sempre dos latino-americanos”. “Não é trivial entre nenhum país fazer um acordo”, argumentou. “Acordos bilaterais podem ser difíceis para qualquer país ou qualquer região.”
Fonte: Estadão