De acordo com o diretor da Divisão de Investimentos da Unctad, James Zhan, o resultado foi o segundo mais baixo desde a crise financeira internacional de 2008. Só ficou acima dos US$ 1,171 trilhão movimentados em 2009.
Em entrevista na sede da ONU em Genebra, na Suíça, Zhan destacou que o desempenho ficou abaixo do esperado. As razões? Fragilidade da economia mundial, incertezas políticas e riscos geopolíticos. “Um crescimento sólido do [fluxo de] IED continua distante”, disse.
Essa distância existe porque a economia global pode permanecer fraca, há volatilidade monetária e no mercado de commodities, e os riscos geopolíticos podem sempre aumentar. “A estrada para uma explosão dos investimentos é esburacada”, afirmou.
Por outro lado, segundo o boletim, a aceleração da economia dos Estados Unidos, o aumento da demanda em função do baixo preço do petróleo e a política monetária proativa na Zona do Euro, além da adoção de medidas de liberalização e promoção de investimentos, podem afetar o fluxo positivamente.
O executivo explicou que os tipos de investimentos majoritariamente realizados no ano passado não são os ideais. Foram aportes em reestruturações corporativas, reposição de estoques existentes, manutenção de recursos em posse de filiais estrangeiras de multinacionais e reaplicação de lucros. É dinheiro gasto, por exemplo, no abastecimento e manutenção de instalações já existentes e outras operações semelhantes, não na expansão da produção das empresas.
“As companhias transnacionais não estão em modo de expansão”, declarou Zhan. “O investimento novo, no setor produtivo, é o que deve ser considerado como verdadeiramente importante para o crescimento da economia real, da geração de empregos e da produtividade”, ressaltou. “Falta ainda esta dinâmica”, afirmou.
Em sua avaliação, os governos priorizam a política monetária como forma de estimular a economia, mas é necessário também incentivar o investimento no setor produtivo, ou seja, as duas ações têm que ser adotadas simultaneamente.
Blocos e países
Caiu o fluxo de investimentos para países desenvolvidos. O total ficou em US$ 511 bilhões, uma redução de 14% sobre 2013. Para as economias em transição, da ex-URSS, a movimentação de recursos despencou pela metade, em função do conflito na Ucrânia e das sanções aplicadas à Rússia. Os aportes em nações em desenvolvimento, porém, subiram 4% e ultrapassaram US$ 700 bilhões, valor recorde.
A baixa entre os países ricos ocorreu principalmente nos Estados Unidos, em função de um “meganegócio”, a recompra de ações da britânica Vodafone pela norte-americana Verizon no valor de US$ 130 bilhões, o que, segundo a Unctad, é considerado um “desinvestimento”. Isso fez com que os EUA caíssem da primeira para a terceira posição no ranking dos maiores destinos de IED, e a China passasse a ocupar o lugar mais alto pela primeira vez. Historicamente, de acordo com Zhan, os Estados Unidos são “de longe” o país que mais recebe IED, e ele acredita que o fluxo de recursos ao país pode voltar a crescer, pois a economia local deve melhorar.
O desempenho das nações em desenvolvimento, por sua vez, foi fortemente influenciado pela Ásia. Para se ter uma ideia, dos cinco principais destinos de IED em 2014, quatro são países em desenvolvimento e três são asiáticos (China, Hong Kong e Cingapura). Zhan destacou que a legislação sobre investimentos estrangeiros na China está se tornando mais liberal, e mesmo com um crescimento menor do que no passado, o país ainda cresce cerca de 7% ao ano, o que é um avanço “enorme”. “Isso gera muita demanda por investimentos”, declarou.
O executivo observou que os países em desenvolvimento da Ásia receberam quase o mesmo valor no ano passado que a quase totalidade das nações desenvolvidas e duas vezes o montante atraído pela Europa. “É para ver como a Ásia está bem, mesmo com um crescimento mais baixo”, comentou.
O quinto país desta lista é o Brasil, que recebeu cerca de US$ 62 bilhões no ano passado, um recuo de 4% sobre 2013. Zhan ressaltou, porém, que este declínio foi “muito moderado”, e que o valor é o segundo maior desde 2007. O desempenho foi influenciado pela redução dos investimentos no setor primário, ou seja, na produção de commodities, que em geral sofreram desvalorização em 2014. O baixo preço destes produtos afetou o fluxo de IED em toda a América Latina.
No caso do Brasil, Zhan destacou um fato positivo no desempenho do ano passado, que foi o aumento dos investimentos na indústria de transformação e no setor de serviços. “O que é um bom sinal em termos da qualidade do IED”, disse. Ao contrário de analistas nacionais, o diretor da Unctad avalia que o governo implementou “fortes” políticas industriais nos últimos dois anos, o que encorajou os investimentos na indústria.
Ele acrescentou que, mesmo com crescimento econômico fraco, a tendência de o País atrair IED segue positiva. O Brasil é historicamente uma das nações que mais recebem este tipo de recurso.
O executivo comentou também os resultados do Oriente Médio, que recuaram pelo sexto ano consecutivo. O fluxo de IED para a região ficou em US$ 44 bilhões, 4% a menos do que em 2013, em função de “conflitos, riscos geopolíticos e instabilidades, agora combinados com o [baixo] preço do petróleo”. “O mais interessante, porém, é que o investimento público aumentou muito na região, especialmente nos países do Conselho de Cooperação do Golfo (GCC)”, afirmou. O GCC é formado por Arábia Saudita, Bahrein, Catar, Emirados Árabes Unidos, Kuwait e Omã.
Fonte: Agência Anba