Economia gaúcha é a mais aberta ao Mercosul

A exportações gaúchas para os países do Mercosul superaram as do Brasil desde a criação do bloco, segundo Panorama Internacional elaborado pela Fundação de Economia e Estatística (FEE) Rio Grande do Sul. De acordo com o levantamento, um dos fatores que contribuíram para que as vendas para o Mercosul representassem em torno de 15% (do total exportado pelo Estado entre 1991 a 2014) foi a sua localização. Neste mesmo período, as exportações brasileiras para o bloco representaram cerca de 10% do volume total de vendas externas do País. “O Rio Grande do Sul se tornou uma economia mais aberta ao Mercosul do que a média nacional, e um dos motivos está relacionado ao fato de o Estado ser a porta de entrada das importações que chegam à economia brasileira”, observa a pesquisadora em economia da FEE Cecília Hoff.

O estudo ainda mostra que as importações do Mercosul significaram 32% das compras do Estado e 10% das do País. “Mesmo que as importações representem mais, as exportações gaúchas para o Mercosul cresceram muito, a ponto de o bloco se tornar o terceiro maior destino de produtos do Estado, só perdendo para a União Europeia e os Estados Unidos”, destaca Cecília, que defende uma maior integração das cadeias produtivas do Estado com o país vizinho. No período de vendas para o bloco, a maior parte das comercializações gaúchas ocorreu para a Argentina (62%), no entanto o Estado também supriu demandas de produtos para o Paraguai (20%) e o Uruguai (20%).

De 1991 a 2009, o valor das exportações do Rio Grande do Sul para o Mercosul cresceu a uma taxa média anual de 15%, enquanto o total das vendas externas do Estado aumentou em 9%. Já de 2010 a 2014, as exportações gaúchas para os países vizinhos caíram 2%, enquanto o total de vendas do Estado para o exterior cresceu 4%. “Boa parte da queda se deu por conta da crise na Argentina, que estabeleceu uma série de embargos, bem como também ampliou seus negócios com a China”, destaca a economista.

Agora, o momento é de expectativa para todos os países do bloco, uma vez que, às vésperas de completar 25 anos, o Mercosul pode passar por uma readequação a partir da proposta da Argentina de abertura de negócios com a Parceria Transpacífica. O assunto deve ser pautado pelo novo presidente argentino, Mauricio Macri, que realiza sua primeira viagem internacional para se reunir com a presidente Dilma Rousseff nesta sexta-feira, em Brasília. “Este novo posicionamento do bloco defendido pelo governo da Argentina exigiria que o Mercosul se reposicionasse e saísse da estagnação em que se encontra”, avalia o pesquisador em Ciências Políticas da FEE Tarson Núñez. Ele aponta que a eleição de Macri (que, quando candidato, se mostrou contra os blocos regionais e defendeu maior abertura comercial do Mercosul) não representa uma tendência de ruptura daquele país com os países sócios do blocol. “É impossível para a Argentina abrir mão do Mercosul e do Brasil”, avalia.

“Para o Rio Grande do Sul, o Mercosul é uma vantagem para os negócios com a Argentina, uma vez que possibilita a exportação de químicos, máquinas agrícolas, derivados de petróleo e automóveis, que não se conseguiria colocar na Europa, na Ásia, Estados Unidos, ou outros destinos”, destaca. “No caso do Mercosul, ainda exportamos bens industrializados (calçados e couros, e metalurgia, entre outros), com maior valor agregado, enquanto para o resto do mundo vendemos praticamente só grãos e produtos alimentícios”, completa. Também para a economia da Argentina, o Mercosul tem uma dimensão estratégica, na medida em que boa parte do comércio internacional daquele destino se dá com os países do bloco. Mais da metade das exportações de manufaturados da Argentina ocorre para o Mercosul, e a corrente de comércio dentro do bloco cresceu cerca de US$ 4 bilhões nos anos 1990 para quase US$ 40 bilhões em 2014.

Fonte: Jornal do Comércio

 

 

PUBLICADO EM: 4 de dezembro de 2015